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CARLOS HEITOR CONY
Histórias e lendas
RIO DE JANEIRO - É mania antiga, sobretudo nos segundos cadernos da
vida, fazer as listas dos dez ou dos
cem mais. As editoras também embarcaram na canoa, e fui convidado
a fazer, para uma delas, uma antologia dos 50 romances de ouro da literatura universal.
Evidente que a escolha seria minha,
uma vez que cada um de nós teria
sua lista particular, embora cinco ou
dez autores figurassem por consenso
em todas. Não foi por aí minha dificuldade. Pensei bem (ou mal) e decidi incluir entre os 50 textos alguns
que tecnicamente não são romances,
mas poemas ou peças teatrais.
Foram os casos de "A Odisséia", de
Homero, de "Os Lusíadas", de Camões, do "Fausto" de Goethe e de
"Romeu e Julieta", de Shakespeare,
sendo que, no caso deste último, fiquei indeciso na escolha. Pensei em
"Otelo", em "Hamlet" e em "Macbeth", grandes histórias que são. Mas
fiquei mesmo com os amantes de Verona, não a melhor, mas a mais popular das peças do autor.
Como incluiria poemas e peças teatrais numa relação que teria "Madame Bovary", "Crime e Castigo", "As
Viagens de Gulliver" e as "Memórias
de um Sargento de Milícias"?
Acontece que usei como critério para a seleção a força das tramas narradas, não o veículo utilizado para contá-las. O drama de Goethe é um dos
mais intrigantes da literatura universal. As viagens de Ulisses e Vasco
da Gama, além de épicas, foram histórias complicadas, cheias de incidentes, perigos, ciladas e recompensas. Com vantagem para Camões,
que foi até certo ponto o genial repórter de uma viagem que abriria o velho mundo para o novo. Ulisses é a
colossal metáfora que nos atinge a todos, ficou na lenda. E uma história só
será imortal quando se tornar lenda.
Há romances que não contam nada. São os meus preferidos; sempre
que posso, e mesmo quando não devo, tento fazer um deles. Mas história
é história, e um bom romance é acima de tudo uma grande história.
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