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VITÓRIA DEMOCRÁTICA
A democracia na América do
Norte sobreviveu a um duro
teste. Duas decisões da Suprema
Corte acabam de restabelecer o princípio fundamental do Estado de Direito de que qualquer pessoa -tenha ela ou não a cidadania norte-americana- detida por autoridades
dos EUA tem o direito de fazer-se ouvir por uma corte de Justiça. Os acórdãos representam um golpe contra o
governo do presidente George W.
Bush, que reclamava para si o direito
de manter presos indefinidamente e
sem acusação formal suspeitos de
envolvimento com o terrorismo.
O caso mais rumoroso é sem dúvida o de um grupo de homens encarcerados na base norte-americana de
Guantánamo, em Cuba. Capturados
no Afeganistão, eles vêm sendo
mantidos incomunicáveis, sem acesso a advogados ou aos tribunais norte-americanos. No que constituía
um verdadeiro câncer jurídico, a Casa Branca argumentava que os prisioneiros não tinham direito a habeas corpus porque eram estrangeiros e não se encontravam em território americano -Guantánamo foi
cedida por Havana aos EUA em caráter perpétuo, mas, nominalmente,
permanece território cubano. Essa
ficção judicial, agora revertida pela
Suprema Corte, havia sido corroborada por dois tribunais inferiores.
Na outra decisão, os ministros afirmaram que Yaser Esam Hamdi, cidadão americano que foi declarado
"combatente inimigo" pelo governo
e vem sendo mantido preso sem
acesso a advogados e sem acusação
formal há mais de dois anos, não pode permanecer nessa situação. Ele
tem direito de aconselhar-se com um
advogado, saber de que é acusado e
ter a oportunidade de defender-se
perante um juiz.
Demorou, mas, após um sombrio
intervalo de quase três anos, o Estado
de Direito, "the rule of law", está voltando a vigorar plenamente nos
EUA. É uma mostra do vigor da democracia norte-americana, capaz de
sobreviver a ignomínias como o 11 de
Setembro e aos desmandos de Bush.
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