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DEBATE COM O FMI
A recente declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva
sobre a possibilidade de o Brasil não
fechar novo acordo com o Fundo
Monetário Internacional deve ser
analisada no contexto retórico que
antecede as negociações. É verdade
que, na ponta do lápis, mantido um
cenário de estabilidade e confiança, a
economia poderia ter condições de
fechar suas contas no ano que vem
sem recorrer a novo aporte do FMI.
A questão, no entanto, não envolve
apenas contas, mas a percepção que
tal decisão poderia produzir nos
mercados. Países altamente endividados como o Brasil -e com baixas
reservas- não precisam oferecer
muitos motivos para tornarem-se alvos de especulações.
O principal ponto da renovação diz
respeito a regras mais favoráveis ao
investimento público e ao crescimento. Estariam em questão normas relativas aos superávits nas contas governamentais. Equacionar a
geração de superávits é fundamental,
uma vez que eles propiciam o pagamento de juros da dívida ao mesmo
tempo em que impõem fortes restrições aos gastos públicos, mesmo em
áreas cruciais como o investimento
em infra-estrutura.
Em entrevista ao jornal "Valor", na
quinta-feira, o economista Joseph
Stiglitz, ex-vice-presidente do Banco
Mundial, considerou indispensável
uma revisão na forma de cálculo do
superávit, que atualmente inclui como déficit empréstimos a estatais e
gastos dessas empresas. Da mesma
forma, seria desejável discutir parâmetros menos draconianos para a
política monetária.
Na hipótese de que as negociações
convirjam para mudanças responsáveis nesses critérios, a renovação de
um compromisso com o FMI poderia ser interessante para o país. Traria
um aval que é levado em conta pelos
mercados internacionais e preservaria um monitoramento útil para conter internamente as tentações de gastos menos sensatos.
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