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São Paulo, sábado, 30 de agosto de 2003

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CLÓVIS ROSSI

O "espetáculo" e a crítica

SÃO PAULO - Bom, agora a recessão já é um dado oficial, sacramentado pelo IBGE. Menos mal que é notícia velha. Há uma série de indícios e uma avaliação virtualmente consensual de que a economia tocou o fundo do poço e, portanto, só tem um lugar para ir: para cima.
O quanto para cima é a grande questão em aberto.
O Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial) revela-se muito cético em relação à hipótese de que se dê, de fato, o "espetáculo do crescimento" prometido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
"O que o presidente Lula chamou de "espetáculo do crescimento" exigiria uma taxa básica real (de juros) em torno de 5% ao ano, o que, dada uma inflação da mesma ordem de grandeza da variação de preços esperada para 2004 (5,5%), requereria uma taxa nominal entre 11% e 12% ao ano", diz.
Hoje, a taxa nominal de juros é de 22%, e a real (descontada a inflação) anda perto dos 15%.
Não parece haver muita gente disposta a apostar que o Banco Central mude de rota e deixe que a esperança vença o medo.
No curto prazo, no entanto, o Instituto de Economia da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) parece apostar em algum espetáculo. Seu economista Caio Prates mergulhou nas estatísticas de saídas anteriores do poço para concluir que, em todas as experiências do gênero, desde 1995, a indústria mostrou "bastante vigor" na subida.
"Pelo menos em 2004, o cenário de um crescimento industrial vigoroso parece perfeitamente factível", escreve Prates para o boletim de agosto do instituto da UFRJ.
O problema é que essa ascensão pós-recessão é o que Prates chama de "crescimento fácil". Sustentá-lo depois para que vire de fato um espetáculo é outra história, obviamente bem mais complicada.
Tudo somado, há muitas dúvidas sobre a qualidade do "espetáculo do crescimento" prometido por Lula, para não falar dos mais radicais que acham que ele nem existirá.


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