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CLÓVIS ROSSI
O "espetáculo" e a crítica
SÃO PAULO - Bom, agora a recessão já é um dado oficial, sacramentado
pelo IBGE. Menos mal que é notícia
velha. Há uma série de indícios e
uma avaliação virtualmente consensual de que a economia tocou o fundo do poço e, portanto, só tem um lugar para ir: para cima.
O quanto para cima é a grande
questão em aberto.
O Iedi (Instituto de Estudos para o
Desenvolvimento Industrial) revela-se muito cético em relação à hipótese
de que se dê, de fato, o "espetáculo do
crescimento" prometido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
"O que o presidente Lula chamou
de "espetáculo do crescimento" exigiria uma taxa básica real (de juros)
em torno de 5% ao ano, o que, dada
uma inflação da mesma ordem de
grandeza da variação de preços esperada para 2004 (5,5%), requereria
uma taxa nominal entre 11% e 12%
ao ano", diz.
Hoje, a taxa nominal de juros é de
22%, e a real (descontada a inflação)
anda perto dos 15%.
Não parece haver muita gente disposta a apostar que o Banco Central
mude de rota e deixe que a esperança
vença o medo.
No curto prazo, no entanto, o Instituto de Economia da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) parece apostar em algum espetáculo. Seu
economista Caio Prates mergulhou
nas estatísticas de saídas anteriores
do poço para concluir que, em todas
as experiências do gênero, desde
1995, a indústria mostrou "bastante
vigor" na subida.
"Pelo menos em 2004, o cenário de
um crescimento industrial vigoroso
parece perfeitamente factível", escreve Prates para o boletim de agosto do
instituto da UFRJ.
O problema é que essa ascensão
pós-recessão é o que Prates chama de
"crescimento fácil". Sustentá-lo depois para que vire de fato um espetáculo é outra história, obviamente
bem mais complicada.
Tudo somado, há muitas dúvidas
sobre a qualidade do "espetáculo do
crescimento" prometido por Lula,
para não falar dos mais radicais que
acham que ele nem existirá.
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