São Paulo, segunda-feira, 30 de agosto de 2004

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LÍNGUA OBRIGATÓRIA

A língua espanhola está entre as mais belas do mundo. Nela escreveram Cervantes, Lope de Vega, Calderón, Luis de Góngora e Jorge Luis Borges, entre muitos outros. Tampouco está em dúvida a utilidade do idioma de Castela, falado por mais de 250 milhões de pessoas em dezenas de nações. O espanhol é especialmente valioso para os brasileiros, pois é a língua da maioria dos países vizinhos bem como dos parceiros do Mercosul.
Essa grande importância, contudo, não justifica a proposta de tornar o ensino do espanhol obrigatório em todo o país, como o Congresso ameaça fazer. Hoje, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) estipula a obrigatoriedade do ensino de uma língua estrangeira moderna, cabendo à comunidade defini-la. A LDB também prevê, no ciclo médio, o ensino de um segundo idioma estrangeiro, em caráter optativo.
Existem vários projetos no Congresso a respeito do ensino do espanhol. Está em fase adiantada de tramitação o do deputado Átila Lira (PSDB-PI), que acaba de voltar do Senado para a Câmara e poderá ser aprovado em breve. Ao tornar a oferta do espanhol obrigatória e silenciar sobre o inglês, essa lei poderia ter como resultado a substituição da língua de Shakespeare pela de Cervantes. E isso porque as escolas poderiam ter dificuldades para ministrar dois idiomas estrangeiros.
E, por maiores que sejam os méritos literários do espanhol, em termos de utilidade ele não se compara ao inglês, que se tornou a principal língua veicular do planeta, isto é, o idioma no qual se dão as comunicações entre povos de falas diferentes. Ninguém é obrigado a gostar dessa primazia do inglês e nem concordar com os aspectos políticos que ela encerra, mas é preciso ser bastante tolo para não reconhecê-la.
De resto, é mais do que oportuno reconhecer que entre as maiores virtudes da LDB está a de, até onde é possível, deixar que cada comunidade -e não os burocratas de Brasília- defina o que lhe interessa.


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