São Paulo, segunda-feira, 30 de agosto de 2004

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A VOLTA DA PÓLIO

As piores previsões estão se tornando realidade. O surto de casos de poliomielite registrado na África pode ser o início de uma nova epidemia na região. A irrupção de doenças não é propriamente uma novidade no continente, já devastado pela Aids, pela malária e por uma pletora de moléstias infecciosas típicas de países pobres. A diferença é que, até alguns meses atrás, falava-se em erradicar a pólio da África e do mundo. Agora, é possível que se tenha de lidar com uma nova epidemia dessa doença que atinge a população mais vulnerável: as crianças.
Com efeito, em janeiro deste ano a Organização Mundial da Saúde (OMS) ainda emitia comunicados auspiciosos, afirmando que o planeta tinha diante de si a melhor oportunidade de livrar-se para sempre da pólio. Planejava-se uma ampla campanha de imunização nos seis países em que a doença é endêmica (Afeganistão, Índia, Egito, Níger, Nigéria e Paquistão) e em nações vizinhas. Pretendia-se vacinar mais de 250 milhões de crianças.
Na África, porém, as coisas não saíram como previsto. O principal obstáculo foram as autoridades religiosas de Estados do norte da Nigéria, que decretaram a vacina "antiislâmica" e com isso contribuíram grandemente para frustrar os esforços da OMS. Dos 602 casos de pólio contabilizados no mundo em 2004 (até o dia 24 de agosto), 476, isto é, 79%, ocorreram na Nigéria. Pior, 12 países da região que não registravam infecções desde janeiro de 2003 voltaram a apresentar casos.
O remédio é insistir na imunização, agora ampliada. Depois de negociações com as autoridades religiosas, a vacinação foi retomada nos Estados "rebeldes". Planeja-se uma grande campanha em outubro e novembro, mas a OMS vem encontrando dificuldades de financiamento. Quando se trata da África, o pior cenário é quase sempre o mais provável. Sem ajuda dos países desenvolvidos e em desenvolvimento, será difícil mudar esse quadro.


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