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CLÓVIS ROSSI
Lula, ligue para o Obama
SÃO PAULO - Diz o jornal britânico "Financial Times" que a proposta talvez mais ambiciosa de Barack
Obama para a economia, em seu
discurso de aceitação da candidatura, foi a de "desmamar" os Estados
Unidos do petróleo externo em dez
anos e investir algo em torno de
US$ 150 bilhões em programas de
energia alternativa.
Eu, se fosse Lula, ligaria para Barack e diria: "companheiro, juntemos a fome com a vontade de comer e seus problemas acabarão".
Explico: 1 - Lula tem verdadeira
obsessão, de resto assumida, com o
uso do etanol (desde que derivado
da cana-de-açúcar, que fique claro)
como fonte do que chama de revolução energética global.
2 - Funcionaria assim: o Brasil
entra com a tecnologia, a melhor
até agora disponível nesse campo, e
os Estados Unidos com o dinheiro
para que países pobres do Caribe,
América Central e África possam se
tornar exportadores de álcool, derivado da cana-de-açúcar ou outro
plantio que não interfira com a alimentação humana.
Esse, aliás, é o espírito do memorando de entendimento assinado
entre Lula e Bush em 2007, mas
que não saiu do papel até agora.
3 - O telefonema urgente é importante, porque Barack Obama
tem ou teve conhecidos vínculos
com o lobby do etanol derivado do
milho, especialidade norte-americana, que, no entanto, é cara demais
e, ela sim, tira milho da boca das
criancinhas (e dos adultos). É bom,
desde já, deixar claro ao candidato
que há uma alternativa melhor.
4 - É razoável supor que um programa desse gênero permitiria aos
Estados Unidos reduzir sua dependência energética de fontes que não
são confiáveis (aos olhos norte-americanos).
5 - Bem combinadas e estudadas
as coisas, Lula deixaria de ser "o
chato do etanol", como ele próprio
se classificou faz pouco, para ser co-autor, aí sim, de uma revolução
energética.
crossi@uol.com.br
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