São Paulo, segunda-feira, 31 de janeiro de 2005

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EDITORIAIS

MUDANÇA NO CENTRO

Ruas de pedestres nos centros históricos são comuns em cidades de elevado padrão. Buscando trilhar este caminho, nos anos 70, o prefeito Olavo Setúbal implantou em São Paulo os calçadões, restringindo o tráfego de automóveis no âmbito de um programa de reabilitação do centro, que já vivia intenso processo de esvaziamento econômico. Os automóveis eram vistos como um dos elementos de deterioração da região, cujas ruas estavam permanentemente congestionadas.
Como era previsível, os calçadões não foram a tábua de salvação do centro. Nem poderiam ter sido, pois as causas da decadência são mais profundas e exigem intervenções e investimentos importantes -alguns deles em curso no âmbito do Programa Ação Centro. A decadência da região, que se aprofundou nos anos 80 e 90, com o desemprego e a falta de fiscalização, gerou um incontido processo de ocupação dos calçadões por ambulantes -problema que na realidade exige mais rigor e eficácia da fiscalização.
É nesse contexto que deve ser vista a proposta do prefeito José Serra de voltar a abrir ruas do centro para automóveis. A idéia requer debate e estudo cuidadoso com vistas a evitar o agravamento dos problemas que se pretende enfrentar. Os calçadões não são intocáveis, mas, por outro lado, as vias do centro são estreitas e seus edifícios não contam com garagem no subsolo, de modo que a liberação dos automóveis dificilmente estimularia o comércio nobre, podendo, ao contrário, provocar congestionamento insolúvel e mais deterioração.
Uma opção, comprovadas as vantagens de acabar com alguns dos calçadões, é estabelecer horários para a circulação exclusiva de ônibus e táxis, reservando-se para os automóveis a noite e os finais de semana. Antes de tudo porém é preciso que qualquer medida relacionada aos calçadões se inscreva no âmbito de um plano mais geral para o centro de São Paulo, que aos poucos vem se recuperando de décadas de deterioração.

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