São Paulo, segunda-feira, 31 de janeiro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

VINICIUS TORRES FREIRE

O novo guia genial dos povos

SÃO PAULO - Como a mulher barba da do circo, Hugo Chávez é engraçado e grotesco. Ontem esteve numa espécie de circo-zoológico dos sem-terra do Rio Grande do Sul, modelo de assentamento aberto ao turismo ideológico, onde um terço das famílias busca o sustento em outro lugar que não a agricultura "solidária". No circo armado pelo Fórum Social Mundial, Chávez deu mais um basta à "mão peluda, ossuda e fedorenta do imperialismo norte-americano".
Chávez tornou-se o novo guia genial dos povos, para o ridículo supremo da esquerda, que não se cansa de se avacalhar. Mas parece um revolucionário tipo "Bananas", de Woody Allen, engraçado só no circo. É um caudilho nacionalista típico da América Latina, subproduto de um dos vários desmanches nacionais da região (como Colômbia, Bolívia, Equador, logo o Peru).
Na Venezuela, 50% dos impostos e 80% das exportações vêm do óleo. De 1958 a 1998, quando Chávez foi eleito, o país foi o condomínio de uma elite espantosamente corrupta até para um brasileiro, que nadava em petróleo e distribuía subsídios-esmola ao povo. Não se industrializou ou se educou. Caracas é 60% favela.
O governo corrupto e doidivanas de Andrés Péres tentou "neoliberalizar" este pacto miserável em 1989-90, o que deu em crise cambial, fiscal, inflação e mais corrupção. Aumentou a pobreza e a desigualdade. Provocou levantes populares e golpes que acabaram dando em Chávez.
O país dividiu-se em metades que se odeiam. A elite empresarial e os donos da mídia são safados e golpistas. Os partidos são o de Chávez e o da elite odienta. Democratas? Neca.
Desde que Chávez assumiu, o preço do petróleo multiplicou-se por quatro. Mas a pobreza, a desigualdade e o desemprego aumentaram. A renda real caiu 20%. Chávez concentra poderes e faz reformas de garganta, num esquema de fuga para a frente de promessas e de benesses cada vez mais populistas. Este é o novo líder espiritual da esquerda brasileira?

Texto Anterior: Editoriais: DESACELERAÇÃO NOS EUA

Próximo Texto: Brasília - Igor Gielow: Bush, Iraque e Brasil
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.