São Paulo, sábado, 31 de janeiro de 1998

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O RESGATE DE ALAGOAS

A grande operação que a Polícia Federal iniciou em Alagoas para identificar políticos, empresários, juízes e policiais suspeitos de envolvimento com o crime organizado tornou-se absolutamente necessária. O Estado não parece dispor de meios técnicos ou de condições políticas para investigar a máfia que, ao que tudo indica, atua dentro de várias instâncias do poder público local.
Pergunta-se se essa decisão não deveria ser tomada antes que a situação chegasse a tal ponto de descalabro. A sensação é de que o Planalto foi tolerante demais com a indústria da corrupção que se instalou nas engrenagens daquele Estado nordestino.
Sabe-se que o poder público alagoano é hoje quase uma peça de ficção. O Estado há muito deixou de cumprir suas obrigações com os municípios; os serviços públicos foram praticamente desmontados; o funcionalismo ficou meses sem receber seus salários; a polícia é a maior suspeita de acobertar a bandidagem.
Em julho do ano passado, quando o governador Divaldo Suruagy entregou o cargo ao vice, Manoel Gomes de Barros, o governo federal impôs ao Estado um duro programa de reequilíbrio financeiro e moralização administrativa. Condicionou empréstimos ao cumprimento de uma série de medidas de austeridade. Mas parece que não foi o suficiente.
O afastamento do secretário da Segurança do Estado, general José Siqueira Silva, é a prova mais recente disso. Indicado pelo Planalto para reformular a polícia local, o general acabou esbarrando numa rede de corrupção e crime aparentemente muito mais poderosa e sofisticada do que a princípio imaginava. Pediu demissão e está ameaçado de morte.
O caso de Alagoas, apesar de local, tornou-se emblemático. O Estado com maior índice de analfabetismo e mortalidade infantil do país, sinais de uma situação crônica de subdesenvolvimento, está há décadas sendo vítima do saque clientelista e privado dos recursos públicos. Enfrentar finalmente com energia tal situação de desmandos é uma questão que interessa a todo o Brasil.



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