São Paulo, sábado, 31 de janeiro de 1998

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Ciro, o frio

FERNANDO RODRIGUES
Brasília - Uma das características mais marcantes do candidato do PPS a presidente, Ciro Gomes, é o jeito inflamado de defender suas idéias.
Só que, se valer o que Ciro disse num jantar que adentrou a madrugada de ontem, em Brasília, sua estratégia é manter um discurso frio, programático. "A emoção fica para depois".
Na avaliação de Ciro, a campanha eleitoral deste ano tem uma peculiaridade: a propaganda de TV será muito curta. Quem deixar para fixar a imagem só depois da Copa do Mundo corre o risco de ser engolido por FHC, cujo nome já está consolidado perante a população.
A propaganda eleitoral gratuita em TV terá 45 dias de duração. Antes, eram 60 dias. Neste ano, não será veiculada aos domingos. Os candidatos a presidente só aparecerão três vezes por semana. Os outros três dias ficam para as campanhas estaduais.
Nas contas de Ciro Gomes, essas novas regras limitam a apenas 21 dias as campanhas de TV dos candidatos a presidente. Além disso, não serão permitidas cenas externas.
É óbvio que fica quase impossível para um candidato fazer campanha de massa apenas com a propaganda gratuita de TV. Isso funcionará para FHC, que já tem exposição exagerada na mídia. Para postulantes como Ciro Gomes, essa tática seria suicida.
Isso tudo para explicar a estratégia do discurso frio e programático do candidato do PPS. Na sua avaliação, os cerca de 9% que tem hoje já lhe permitem correr pelo país. O PPS listou 170 cidades médias e grandes.
A idéia de Ciro é chegar em maio com um percentual em torno de 12% nas pesquisas. Ou 15%, número que considera ideal. "Tem um eleitor que está irritado com o Fernando Henrique, mas não quer votar no Lula. É a ele que preciso me apresentar", diz.
Se conseguir isso, Ciro avalia que estará no segundo turno contra FHC. E, a partir de maio ou junho, ficará liberado para falar com emoção e fazer ataques mais duros ao governo.
E se tudo der errado? Tudo bem, diz ele. "Vou levar esse caixão até o final". Não admite renúncia para apoiar FHC. É esperar para ver.



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