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O contrato por prazo determinado vai estimular a geração de empregos?
EM TERMOS
Um pequeno avanço
ELVIO ALIPRANDI
O governo anunciou como grande
avanço a aprovação da lei do contrato
de trabalho por prazo determinado. Seria, na avaliação das autoridades, uma
etapa importante na luta contra o desemprego, na medida em que reduz os
encargos durante a vigência do contrato, diminui o valor da multa na hora da
demissão e baixa a alíquota do FGTS
(Fundo de Garantia do Tempo de Serviço), entre outras alterações.
Reconhecemos que foi um passo positivo e é um progresso. Mas não é uma
solução definitiva. Pode até criar barreiras, se o Executivo e o Congresso
considerarem que deram contribuição
significativa para a solução do verdadeiro problema.
O verdadeiro problema das relações
trabalhistas vigentes no Brasil é o excesso de regulamentação. O acúmulo
de exigências, prerrogativas e inflexibilidade trava a administração das empresas, azeda o relacionamento com os
empregados e chega a dobrar o valor da
folha de pagamento, conforme um dos
cálculos mais aceitos pelas empresas.
Nas contas dos técnicos, a soma dos
encargos fica em cerca de 60%, o que já
é suficiente para colocar o Brasil entre
os campeões mundiais da tributação
trabalhista, muito acima dos 9% dos
Estados Unidos e dos 11% do Japão.
Dar emprego no Brasil é um desafio
enorme. Desde as primeiras leis trabalhistas, no tempo da ditadura de Getúlio Vargas, há meio século, criou-se
uma situação que se deteriorou com o
passar dos anos, até chegar ao absurdo
dos dias atuais, com a inclusão de uma
legislação trabalhista excessivamente
detalhada e casuística na Carta de 1988.
O resultado prático dessa situação é o
que se vê hoje no país: a crescente legião de trabalhadores sem carteira assinada, a informalidade, que mancha a
economia, e a marginalidade, que acaba sendo a única alternativa de sobrevivência de muitos.
Ninguém deseja a ausência total de
leis, naturalmente. Há necessidade de
regulamentação. As relações entre empregado e empregador precisam ter um
balizamento legal. Como parte mais
fraca, o trabalhador deve mesmo contar com a proteção da lei.
Até aí, nada a contestar. Mas, quando
ultrapassamos os limites da sensatez e
caímos no exagero de regulamentos, o
prejuízo é geral: o empregador evita
contratar, o trabalhador vive sob a
ameaça do desemprego, o governo tem
dificuldade para arrecadar, a Justiça fica emperrada, a economia sofre.
Nesse cenário desolador, vem agora o
governo e comemora a aprovação do
contrato por prazo determinado. Faz
sentido apenas se considerarmos que
são raras as iniciativas desse gênero.
Em mais de 50 anos, as leis têm sido
feitas, geralmente, para complicar,
nunca para simplificar. Sob esse ponto
de vista, houve de fato uma novidade.
Pelo menos, podemos dizer que andamos na direção certa, que saímos da
contramão por um momento.
Mas continuamos distantes da solução. Há muito o que desregulamentar e
flexibilizar neste momento em que a
economia brasileira se abre e a globalização ganha espaço e força entre nós.
Precisamos de condições mínimas de
competição -com alguma chance de
vencer- na dura disputa com empresas de países menos complicados.
Além da burocracia para importar e
exportar, do atraso tecnológico, dos juros altíssimos e do excesso de carga tributária, enfrentamos uma legislação
trabalhista obsoleta, contraproducente, complicada. Progredimos com a
aprovação do contrato temporário.
Mas foi apenas um pequeno avanço.
Elvio Aliprandi, 61, empresário, é presidente da Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo
(Facesp) e da Associação Comercial de São Paulo (ACSP).
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