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O contrato por prazo determinado vai estimular a geração de empregos?
NÃO
Geração de desemprego
KJELD JAKOBSEN
O contrato de trabalho por prazo determinado contribuirá para o desemprego e a precarização das relações de
trabalho, estimulando a troca de trabalhadores contratados formalmente por
um contingente com data marcada para perder seu emprego.
As justificativas governamentais são
absurdas e cínicas. Governo e entidades
empresariais dizem que o custo do trabalho no Brasil é muito elevado, o que
desestimularia novas contratações.
Porém, segundo pesquisa da OIT
(Organização Internacional do Trabalho) de 1993, o custo do trabalho no
Brasil (salários e outros) já é dos mais
baixos. Aqui, nessa época, era de US$
2,5/hora na indústria de transformação. Na Coréia, era de US$ 5,5/hora;
nos EUA e na Alemanha, de US$ 16/hora e US$ 25/hora, respectivamente. De
1994 a 1997, essa relação só foi ligeiramente alterada a favor do Brasil devido
à espantosa valorização artificial de
nossa moeda em relação ao dólar.
Outro "argumento" seriam os custos das demissões, pretensamente muito elevados. Assim, segue a "explicação" governista: reduzir os custos das
demissões estimularia as empresas a
promover novas contratações.
Mas um indicador universalmente
aceito e recomendado para comparar
os custos das demissões entre países diversos é a taxa de rotatividade. Em
1995, segundo o IBGE (Pnad/95), essa
taxa alcançou 37,1%. Nos EUA, tidos
como o paraíso das relações flexíveis, a
rotatividade foi de 14%. Esse enorme
índice demonstra cabalmente que as
empresas têm custos pouco elevados, já
que promovem constantes demissões.
Por último, as opiniões governamentais sugerem que, nos países de industrialização tardia em que houve desregulamentação do mercado de trabalho,
as taxas de desemprego mantêm-se em
níveis aceitáveis e baixos. Argentina e
Espanha, países com configurações
econômicas semelhantes à do Brasil,
tornaram-se líderes mundiais da flexibilização trabalhista e do desemprego.
Na Espanha, a reforma trabalhista teve início em 1984. O desemprego, em 12
anos, saltou de 18% para 24% (dados
da Fundación Formación y Empleo).
Na Argentina, a flexibilização dos contratos de trabalho começou em 1990 e
foi até o final de 1995. O desemprego
nesse período saltou de 3,6% para 21%.
Gerar empregos não é tão complexo,
como costuma afirmar FHC. Também
não se faz por meio da redução de salários e de direitos. A geração requer investimentos de acordo com uma política de desenvolvimento, combinada
com a adoção de políticas industriais e
agrárias voltadas para os interesses da
maioria da população, não somente
para a ganância de uma pequena elite.
Fala-se muito em competitividade,
mas não se fala em reduzir altíssimas
margens de lucro. Fala-se muito, também, em modernidade, mas a reforma
tributária -que poderia, de fato, mexer com a imensa concentração de renda existente, propiciar a queda de juros
etc.- não sai do discurso.
Kjeld Jakobsen, 41, é secretário de Relações Internacionais da CUT (Central Única dos Trabalhadores), diretor
da Organização Regional Interamericana de Trabalhadores da Central Internacional de Organizações Sindicais
Livres e secretário-geral da Coordenadoria de Centrais
Sindicais do Cone Sul.
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