São Paulo, segunda-feira, 31 de março de 2008

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VALDO CRUZ

Perguntar não ofende

BRASÍLIA - Uma perguntinha básica: se a CPI dos Cartões Corporativos aprovar um requerimento solicitando dados de despesas da época do ex-presidente FHC, a Casa Civil enviará à comissão o documento de 13 páginas que vazou para a imprensa, cuja autoria o próprio Palácio do Planalto assumiu?
Documento que lista gastos anódinos e exóticos da época de Fernando Henrique Cardoso no Planalto, vários deles relacionados a "dona Ruth", assim descrita naquilo que o governo Lula classifica de banco de dados.
Será que a Casa Civil remeteria oficialmente um texto que, de repente, grafa em maiúsculas a compra de CERVEJA CERPA, UNHA FÁCIL, DESODORANTE ROLL-ON e ÓLEO PARA O CORPO? Meio assim que, diríamos, para dar destaque especial àqueles gastos.
Ou que, num campo chamado observações, informa que foram adquiridas 70 garrafas de vinho para atender viagens presidenciais do tucano? Documento que claramente foi criado a partir de três arquivos diferentes. Basta conferir a digitação do dossiê, quer dizer, banco de dados.
Alguém, pelo visto, criou lá no Planalto uma pequena degustação daquilo que a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) chama de banco de dados com 20 mil vezes mais informações, montado para ser encaminhado à CPI caso necessário. A pedido de quem? Endereçada ao paladar de quem?
Elaborada nas dependências da Casa Civil, seu ordenador foi alguém lotado por ali. Só isso já cheira mal. Um trabalho mais republicano deveria se limitar a compilar dados, tal como eles são, sem interpretações e destaques.
Como desabafava um governista, o problema é que a amostra do "banco de dados" vazou. Era para ficar sigilosa, como munição para amedrontar a oposição.
Afinal, se algo for enviado oficialmente à CPI dos Cartões, aquelas 13 páginas seguramente não estarão na remessa -só pra responder a perguntinha lá de cima.


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