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EROSÃO DE DIREITOS
Relatório da Anistia Internacional recém-divulgado documenta e sistematiza notícias de violações aos direitos humanos em 152
países em 2001. Algumas estão indissociavelmente relacionadas aos ataques terroristas de 11 de setembro.
A observação de Irene Khan, secretária-geral da organização, é asperamente precisa: "Nos dias, semanas e
meses que se seguiram [aos atentados], governos em todo o mundo
erodiram os direitos humanos em
nome da segurança e do combate ao
terrorismo (...) Estados democráticos pularam nesse trem quase tão rapidamente quanto os autoritários".
O caso mais sintomático é, como
não poderia deixar de ser, o dos EUA.
O Pentágono se recusou a classificar
os membros do Taleban e de Al Qaeda capturados no Afeganistão como
prisioneiros de guerra para não ter de
lhes conceder algumas das proteções
previstas nas Convenções de Genebra. Pretende ainda julgá-los em tribunais militares de exceção.
Autoridades dos EUA também ganharam mais poderes para prender,
buscar e vigiar suspeitos de ligação
com o terrorismo. Mais de 1.100 pessoas, a maioria de origem árabe ou
centro-asiática, foram detidas em
condições que seriam consideradas
inaceitáveis antes de 11 de setembro.
Ainda que em menor grau, outras
democracias ocidentais como o Reino Unido e o Canadá baixaram leis
que facilitam a deportação e detenção de estrangeiros suspeitos.
Os efeitos colaterais dos atentados
não param por aí. Países de pouca ou
de nenhuma tradição democrática,
como Arábia Saudita, Paquistão e
Rússia, aproveitaram-se da "guerra
contra o terror" para lançar violentas
campanhas de repressão contra inimigos internos. E o mundo, que em
tempos normais teria protestado, fechou os olhos para essas violações.
Um fundamento da democracia é a
proteção aos direitos individuais. Se,
a pretexto de combater o terror, Estados deixarem de observar essa garantia, o terrorismo terá lamentavelmente vencido uma batalha.
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