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CLÓVIS ROSSI
O risco é ser Brasil
SÃO PAULO - O leitor Bento Bravo, que já se tornou um amigo, embora
virtual, escreve para dizer que o risco
não é o Brasil virar uma Argentina,
mas a Argentina virar um Brasil. Risco para a Argentina, "por supuesto",
como dizem eles.
O índice de desemprego em São
Paulo dá certa razão a Bento: superou os 20% e, portanto, não está muito longe do índice argentino (18,3%
em outubro, último número oficial,
certamente perto de 25% agora).
Com um detalhe assustador: para
chegar a mais de 20%, a Argentina
precisou de quase quatro anos de recessão e de um caos institucional,
econômico e social sem paralelo em
países que não tiveram guerra.
Já o Brasil (ou, ao menos, São Paulo) ultrapassa os 20% na mais absoluta normalidade institucional e sem
recessão.
Pulemos para a segurança. Os argentinos acham que a violência por
lá atingiu níveis de fim de mundo.
Mas, na comparação com o Brasil,
Buenos Aires ainda é quase um paraíso. Duvida? Basta ler o jornal "O
Globo" de ontem, ao qual o coronel
Francisco Bezerra, comandante da
Polícia Militar, admite que "o direito
de ir e vir dos cidadãos (está) momentaneamente ameaçado".
Como é óbvio, emprego e segurança
são os dois fatores que mais de perto
dizem respeito ao bem-estar do público. Logo, Argentina e Brasil estão
sendo igualmente incapazes de oferecer um e outra.
Passemos agora para a macroeconomia. Em "O Estado de S. Paulo",
também de ontem, aparece o economista-chefe para mercados emergentes do HSBC, David Lubin, dizendo
que a debilidade fundamental da
economia brasileira é a sua limitada
capacidade de gerar dólares de uma
forma sustentável, como por meio de
exportações, por exemplo.
"Nesse aspecto, o país tem uma situação muito parecida com a da Argentina", conclui Lubin.
De novo, a Argentina precisou do
caos para derreter. O Brasil derrete
na mais absoluta normalidade.
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