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JOSÉ SARNEY
A hora do
santo Daime
O candidato Serra, hipocondríaco como eu, promoveu, nesta
semana, uma reunião com a classe
médica em São Paulo dizendo que
"pedido de médico tem capacidade
multiplicadora" e apelou para que eles
fizessem campanha "entre os pacientes e integrantes de suas equipes, como enfermeiros e auxiliares de enfermagem". Terminou direto: "precisamos de vocês, votem conosco".
Assim, na mesa de operação, o paciente ouve do cirurgião: "Olhe este
bisturi, vote no Serra". Ou as enfermeiras e auxiliares, medindo a pressão ou dando injeção, metem a agulha
e, "vote no Serra". Eu acho que essa
preferência pelos médicos se justifica.
A saúde do candidato é prioridade
máxima. É difícil aguentar uma pesquisa de baixa sem a pressão subir.
O Brasil também está precisando de
médico. As páginas dos jornais desta
semana são de dar febre e calafrio. O
desemprego alcançou o seu pique
mais alto, 8,6%. O Brasil, na década de
80 (quando deixei o governo, em 1990,
o índice era de 2,7%), estava no 93º lugar do mundo. Agora, está em 23º,
junto da Argentina, que está em 22º.
Em números absolutos, somos o segundo país do mundo que conta mais
desempregados: 11,454 milhões. O
primeiro é a Índia, com 41,344 milhões de desempregados -e um bilhão de habitantes.
Outra notícia má: o PIB caiu 0,73%
pelo segundo trimestre consecutivo e,
nos últimos doze meses, a queda foi de
0,29%. Recessão "braba". A renda dos
trabalhadores está em queda ladeira
abaixo. Os juros do cheque especial
disparam e chegam a 154,7% ao ano.
O gás de cozinha sobe 9%, a produção
industrial cai 3,9% e a inadimplência
alcança quase 20%. O Tesouro Nacional paga para rolar a dívida os juros
mais altos dos últimos tempos
-19,10%-, porque o mercado está
de orelha em pé. O risco Brasil chega a
999 pontos. Maior do que o nosso, só
o da Argentina e o do Peru.
Enquanto isso, a FAB anuncia que
seus aviões vão deixar de voar a partir
de segunda-feira por falta de combustível. O Exército somente vai funcionar em meio expediente, e a Marinha
cancela um dia de trabalho na semana, porque não tem recursos.
O resumo da situação está em artigo
de Miriam Leitão: "Os dados divulgados nos últimos dias não deixam dúvidas de que a economia está mal, o PIB
negativo, o desemprego crescendo e a
renda em queda."
Para aliviar, o talentoso Nizan já tomou vacina: "Serra não é clone de
FHC"; a Polícia Federal pediu para liberar a droga do santo Daime, feito do
cipó da caiapi, para cerimônias religiosas; e a turma pode, numa viagem
celeste, pedir pelo Brasil.
José Sarney escreve às sextas-feiras nesta coluna.
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