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FERNANDO RODRIGUES
As razões de O'Neill
BRASÍLIA - É inegável que o secretário do Tesouro dos EUA, Paul O'Neill,
foi deselegante ao sugerir que o Brasil
não deva receber ajuda porque o dinheiro poderá servir para engordar
contas na Suíça.
O'Neill e seu governo não passam
por um bom momento no campo da
moralidade. Mas cabe refletir sobre a
razão de tão desastrada declaração.
Uma explicação é simples. É sabido
que o governo de George W. Bush, como de resto os de todas as últimas administrações federais dos EUA, é
composto em grande parte por caipiras -no sentido de jeca. Viceja por lá
a tábula rasa da análise geopolítica.
O país é governado por uma elite tosca, cujo pensamento se aproxima ao
do cidadão de cultura média.
Daí decorre uma segunda explicação para o ataque do secretário do
Tesouro: a imagem do Brasil ainda é
péssima para o norte-americano médio. O que O'Neill falou em público é
comum ouvir em privado.
O Brasil teve oito anos de FHC e
gente falando inglês com fluência.
Mas a estabilidade da moeda era falsa, e o país só agora terá, pela primeira vez na sua história moderna, uma
transição institucional e normal de
um presidente para outro.
Sim, porque Sarney era vice e foi
eleito de forma indireta. Collor foi deposto. Itamar tapou o buraco. FHC
conseguiu sua reeleição todos sabemos como. Não é nada, não é nada, é
quase nada mesmo. Nos Estados
Unidos, há eleições regulares há mais
de 200 anos. E é uma tradição por lá
processar e condenar as pessoas que
cometam crimes, mandando-as de
algemas para a cadeia.
Mesmo agora, com todos os escândalos financeiros, não adianta os
brasileiros se refestelarem dizendo:
"a-há!, nos Estados Unidos eles roubam também. E muito mais do que
nós!". A diferença é que lá os crimes
viram notícia no planeta inteiro. Por
aqui, o esforço é total para escondê-los de todas as formas.
No fundo, a declaração de O'Neill
incomoda tanto não por ter ofendido
de forma irresponsável. Mas talvez
pelo que contenha de verdade.
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