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São Paulo, quinta-feira, 31 de julho de 2003

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CLÓVIS ROSSI

Uma pequena batalha perdida

MONTRÉAL- Se é verdadeira a velha tese do Chacrinha, segundo a qual quem não comunica se estrumbica, então o Brasil vai se estrumbicar nas negociações comerciais.
É formidável a incapacidade do governo brasileiro de fornecer informações à mídia em reuniões internacionais ou mesmo em viagens presidenciais ao exterior. Neste governo como em anteriores, esclareça-se.
Diplomatas e membros da comitiva presidencial atendem no máximo os jornalistas brasileiros, como se o resto do mundo não contasse.
O problema é recorrente e ficou crítico aqui em Montréal ao término da miniconferência ministerial da OMC. O Brasil tinha três ministros, o maior número entre os 26 participantes, para não falar nos dois embaixadores que faziam parte do grupo negociador.
Dois deles (Celso Amorim, Relações Exteriores, e Roberto Rodrigues, Agricultura) viajaram logo cedo, antes da sessão final e, portanto, antes das entrevistas de encerramento.
Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior) ficou, mas viajou logo após o encerramento sem falar com os jornalistas (a não ser com os dois únicos brasileiros presentes).
Resultado: os jornalistas estrangeiros que acompanhavam o evento foram obrigados a entrevistar seus colegas brasileiros para saber a posição do governo Lula. É ridículo.
Uma desculpa frequente de diplomatas brasileiros para esse tipo de omissão é a de que a mídia estrangeira não tem interesse na posição brasileira. Pode ter sido verdade durante muito tempo, mas, desde pelo menos o governo anterior, o Brasil, com todas as suas mazelas, mas com todo o seu tamanho, é, por isso mesmo, relevante na cena internacional.
Batalhas internacionais, políticas, diplomáticas ou comerciais também se ganham no terreno da informação. Se o Brasil não diz o que pensa, o público que, no exterior, se interessa pelo tema fica limitado à versão de seus competidores.


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