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São Paulo, quinta-feira, 31 de julho de 2003

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ELIANE CANTANHÊDE

Não me deixem só!

BRASÍLIA - Governo, Congresso, parte do PT, juízes e servidores estão implodindo a reforma da Previdência? Chama o Palocci!
Governadores querem garfar mais algum com a reforma tributária? Chama o Palocci!
O MST invade para todo lado, a situação está tensa e Lula exige reforma agrária? Chama o Palocci!
Os sem-teto ocupam um terreno da Volks, multinacional conhecida em todo o mundo? Chama o Palocci!
O ministro Miro Teixeira dá sinais de romper contratos de reajuste de telefonia? Chama o Palocci!
O vice, José Alencar, o empresário Eugênio Staub, o setor produtivo inteiro esperneia pelos juros altos? Chama o Palocci!
E por que estão sempre chamando o Palocci? Por que ele é um sanitarista com cara de bons amigos e muito bom de lábia? Não. Simplesmente porque o ministro da Fazenda é o guardião da política econômica ortodoxa: juros altos mais superávit fiscal altíssimo é igual a estabilidade.
Quando as reformas previdenciária e tributária estão sob ameaça, há sinais de tensão social, o país passa a sensação de estar à beira de quebrar contratos e de invadir terrenos de multinacionais, a primeira coisa que entra na mira dos investidores internacionais é justamente a estabilidade -inclusive a da economia.
A decisão do "núcleo duro" do governo não é reafirmar Palocci, porque ele está mais do que reafirmado, mas reforçar sua posição, ampliar suas alianças no próprio governo, no empresariado e no Congresso. Se os ataques recrudescerem, ele precisa estar robusto e saudável para resistir a pressões (até do governo) por fortes mudanças de rumo. Essas mudanças precisam vir, mas com calma.
O perigo está até em Lula. Economia não é sua especialidade. Quando vê pobreza, desemprego, invasões, clamor por crescimento, deve ficar com uma coceira danada para transgredir a política pragmática de Palocci e optar por uma populista -com uma queda brusca de juros, por exemplo. No primeiro momento, lindo. Depois é que seriam elas.


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