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ELIANE CANTANHÊDE
Não me deixem só!
BRASÍLIA - Governo, Congresso, parte do PT, juízes e servidores estão implodindo a reforma da Previdência?
Chama o Palocci!
Governadores querem garfar mais
algum com a reforma tributária?
Chama o Palocci!
O MST invade para todo lado, a situação está tensa e Lula exige reforma agrária? Chama o Palocci!
Os sem-teto ocupam um terreno da
Volks, multinacional conhecida em
todo o mundo? Chama o Palocci!
O ministro Miro Teixeira dá sinais
de romper contratos de reajuste de telefonia? Chama o Palocci!
O vice, José Alencar, o empresário
Eugênio Staub, o setor produtivo inteiro esperneia pelos juros altos? Chama o Palocci!
E por que estão sempre chamando
o Palocci? Por que ele é um sanitarista com cara de bons amigos e muito
bom de lábia? Não. Simplesmente
porque o ministro da Fazenda é o
guardião da política econômica ortodoxa: juros altos mais superávit fiscal
altíssimo é igual a estabilidade.
Quando as reformas previdenciária
e tributária estão sob ameaça, há sinais de tensão social, o país passa a
sensação de estar à beira de quebrar
contratos e de invadir terrenos de
multinacionais, a primeira coisa que
entra na mira dos investidores internacionais é justamente a estabilidade -inclusive a da economia.
A decisão do "núcleo duro" do governo não é reafirmar Palocci, porque ele está mais do que reafirmado,
mas reforçar sua posição, ampliar
suas alianças no próprio governo, no
empresariado e no Congresso. Se os
ataques recrudescerem, ele precisa estar robusto e saudável para resistir a
pressões (até do governo) por fortes
mudanças de rumo. Essas mudanças
precisam vir, mas com calma.
O perigo está até em Lula. Economia não é sua especialidade. Quando
vê pobreza, desemprego, invasões,
clamor por crescimento, deve ficar
com uma coceira danada para transgredir a política pragmática de Palocci e optar por uma populista
-com uma queda brusca de juros,
por exemplo. No primeiro momento,
lindo. Depois é que seriam elas.
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