São Paulo, quinta-feira, 31 de julho de 2003 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES "Contribuição" quer dizer "mãos ao alto"
JORGE BORNHAUSEN
O uso e abuso das "contribuições" é tão forte que em 1988 elas compreendiam apenas 25% da arrecadação federal, contra 75% de impostos. Hoje, os impostos representam apenas 45% da arrecadação federal, enquanto as "contribuições" subiram para 55%. Significa que a União partilha com os municípios apenas 45% da sua receita. Ora, como os municípios sofrem os impactos inflacionários e o crescimento das suas despesas dá-se, no mínimo, em proporção igual ao que sofre o Tesouro Nacional, as quotas de participação que lhe são creditadas pela União caem, proporcionalmente, a cada momento. Só há um jeito de acabar com essa burla cínica ao espírito da Constituição e promover a participação efetiva dos municípios na receita tributária da União: impedir o uso indevido do conceito de contribuição e decretar que as contribuições, a partir de agora, sejam denominadas "impostos". E que todas as receitas tributárias da União formem um único bolo e os Estados e municípios participem do seu rateio. O momento para promover essa correção de rumos e botar a boca no trombone contra essa desfaçatez da prática fiscal é a reforma tributária, em tramitação no Congresso Nacional -a proposta de emenda constitucional nš 41. A bancada do PFL na Câmara dos Deputados já apresentou uma emenda ao projeto do governo que, atendendo às exigências técnicas textuais, propõe pura e simplesmente o seguinte: os cálculos dos fundos de participação dos Estados, do Distrito Federal e dos municípios serão feitos a partir do "produto da arrecadação dos impostos e contribuições administrados pela Secretaria da Receita Federal". Basta essa alteração sutil do artigo 159 da Constituição, associando "impostos e contribuições" onde antes só havia a palavra "impostos", e elimina-se a injustiça. É impressionante como a burocracia joga com os conceitos jurídicos e como o legislador fica à margem dessas manobras ardilosas embutidas nas leis que são apresentadas com determinados fins e que, na verdade, não passam de artifícios para encobrir desvios tão graves ao espírito da Constituição. Finalmente, a Constituição é o nosso contrato social, as regras do jogo pelo qual concordamos viver numa sociedade organizada, sob instituições estáveis permanentes, e não pode encobrir, pela omissão, artifícios danosos. Não se pode permitir que o uso e o abuso de uma inocente expressão técnica do direito tributário, "contribuição", debilite os Estados e os municípios brasileiros, enfraquecendo um dos esteios essenciais da nossa vida democrática. Jorge Bornhausen, 65, senador pelo PFL-SC, é o presidente nacional do partido. Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Roberto Romano: Pela democracia Índice |
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