São Paulo, quinta-feira, 31 de julho de 2003 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Pela democracia
ROBERTO ROMANO
Cito Mauricio Tragtemberg. Após o quarto Congresso do PCB, diz ele, quando "Prestes justificara o caráter "progressista" da burguesia industrial", o partido "deveria lutar por uma Constituinte com Getúlio e apoiar Adhemar de Barros ao governo do Estado". Tempo de alianças à direita, ordenadas pela URSS. O partido combateria as greves em prol da "união nacional". O jovem Tragtemberg foi alertado, em outras correntes socialistas, sobre os "descaminhos do bolchevismo". "Fui chamado à ordem pela "direção" e impedido de ler Marx ou Lênin; literalmente obrigado a me limitar à leitura dos jornais "Hoje" e "Imprensa Popular" para ficar a par do noticiário nacional e internacional, segundo a voz dos "dirigentes". Persistindo nas minhas dúvidas, fui solenemente expulso do PCB, nos termos do artigo 13 do "Estatuto do Partido" de 1945: "É proibido ao militante do partido qualquer contato direto ou indireto com trotskistas ou outros inimigos da classe operária'" ("Educação e Sociedade", Memorial para Concurso/ Unicamp, 1990). Os dissidentes eram assim caracterizados por Diógenes A. Câmara: "porta-vozes das mais variadas concepções e tendências antipartidárias, provocam disputas dentro do partido (...) degeneram inteiramente, transformam-se em instrumentos dóceis nas mãos da reação e do imperialismo" ("Reforçar a vigilância revolucionária, tarefa vital do Partido", citado por Sergio Ruckert em tese defendida sob minha direção). Logo, "não há comunista sem se subordinar incondicionalmente aos princípios do partido". Contra os que discordam, "a única posição justa é combatê-los e esmagá-los em toda linha". Contra a melancólica hegemonia atual das formas conservadoras na política civil, eclesiástica, acadêmica, persistiram os ideais do socialismo democrático, e o espartilho centralista deveria cair em desuso na esquerda. Mas, como antes no PC, a direção do PT sente-se à vontade para operar com oligarcas, mesmo os pouco ortodoxos nos assuntos públicos. É a famosa "base aliada". Ela vale mais para o governo que os militantes, em cujos ombros foi conduzido ao Planalto. Seriam os críticos, entretanto, que "fazem o jogo da direita". A exigência ainda consiste em "esmagar" quem recusa ordens incondicionais. Com a solução das reformas à vista, é preciso que toda a esquerda entre em acordo e rompa com o passado autoritário. Partido político não é igreja (onde as regras vêm do ser divino) nem Exército, mas reunião de vontades e de inteligências que discutem, discordam, unem-se nas propostas à sociedade. Se os dirigentes negam um programa, concedam o protesto aos seus defensores. E que logo um congresso extraordinário do partido chegue ao novo consenso, abolindo o antigo programa em favor de outro, mais próximo do governo e, se possível, aceitável pelos favoráveis às teses anteriores. Todos, entretanto, reflitam sobre os frutos do abandono de valores como o socialismo. Após maduros debates, as tendências escolherão o seu rumo sem processos ou mútuas ameaças. Isso é novidade. Seu nome? Democracia. Roberto Romano, 57, é professor titular de ética e filosofia política na Unicamp e autor de "Moral e Ciência - A Monstruosidade no Século XVIII" (ed. Senac/São Paulo), entre outras obras. Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES Jorge Bornhausen: "Contribuição" quer dizer "mãos ao alto" Próximo Texto: Painel do leitor Índice |
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