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Janio de Freitas

Caminhos policiais e outros

Mansidão da polícia, que toma rumos estranhos, é vista nos casos do Carnaval de SP e do jet ski no litoral

A polícia toma rumos estranhos ou suspeitos em dois dos três casos de maior repercussão nos últimos dias. E o faz, por acaso ou por motivo (ainda) não comprovado, certeiramente naqueles em que há presença de poder financeiro, em um, e de interesses eleitorais no outro.

Não se precisaria de tantas hipóteses para entender o que houve na apuração de votos das escolas de samba, mas a polícia nos proporciona três. Ou as emissoras de TV adulteraram os vídeos do incidente, ou a polícia não viu os vídeos exibidos vezes incontáveis, ou os vídeos e sua legitimidade devem ser desprezados em favor de propósitos especiais.

"Supressão de documentos". Com um só ou, haja reticências, talvez dois autores. E por isso liberdade quase imediata para os dois únicos presos, sob a módica fiança de R$ 12,4 mil. Ótimo para os autores, que apenas se deixaram tomar por "um momento de fúria" com as más notas de suas escolas; ótimo para os dirigentes de escola e ótimo para a política do governismo estadual, que não indispõe a massa das escolas com suas já conturbadas conveniências eleitorais para este ano.

As cenas que nós e o mundo vimos levam, no entanto, a outras evidências e conclusões: um assalto, executado, por sinal, com mestria admirável e indícios variados de articulação em grupo.

Uma pessoa salta o gradil que faz as vezes de muro, pula na mesa, atira-se sobre um homem e rouba-lhe das mãos um maço de papel. E foge, enquanto a fuga é facilitada por outros que instalam o tumulto no meio dos aturdidos, atacando os seguranças e derrubando o gradil, para facilitação também de quem mais vai se apropriar dos papéis alheios.

A "supressão de documentos", como a polícia define legalmente o episódio para a formulação do inquérito e a felicidade dos interessados diversos, é apenas só uma parte do episódio. A mecânica da ação não faz diferença entre papéis com anotações ou papel-moeda. Assalto é assalto, roubo é roubo, furto é furto.

Mansidão policial semelhante é aplicada à tragédia da menininha morta, na praia de Bertioga, por um jet ski. A lenga-lenga em torno de depoimentos que se arrastam, inverdades para ludibriar repórteres, protelação injustificável de perícia e reconstituição, tudo isso conduz a um só efeito: a deformação da responsabilidade, com resultado atenuante ou mesmo inocentação.

Quem já usou jet ski sabe que criança de 13 anos não tem condições de dominá-lo, ainda mais se levando outra pessoa. O menino que acionou a máquina foi, porém, autorizado por familiar -consta que o pai ricaço- a utilizá-lo, motivo pelo qual o caseiro recebeu ordem de levar o aparelho para a praia.

Nada, no episódio, sugere dúvida quanto à responsabilidade decisiva pela tragédia. A não ser na polícia.

PALAVRA

Completado um mês, no dia 22, de seu enfático compromisso, o governador Geraldo Alckmim ainda não identificou ("de imediato") nem tomou providência alguma em relação ao policial, e seus quatro companheiros, que surrou a cassetete um homem desarmado, sereno e triste, de mãos ao alto, que apenas caminhava em direção oposta aos facínoras fardados. No chão de escombros do Pinheirinho.

DEFINIÇÃO

Decidiu! Parece que sim, quem sabe?, que talvez tenha decidido. Só falta a certeza sobre o que decidiu.

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