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Ministro do STF quebra sigilo bancário de senador do DEM

Segundo Polícia Federal, Cachoeira avisou Demóstenes sobre investigações

Inquérito afirma que os dois também discutiam nomeações para cargos 'estratégicos' no governo de Goiás

FERNANDO MELLO
LEANDRO COLON
FILIPE COUTINHO
DE BRASÍLIA

O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Ricardo Lewandowski determinou a quebra de sigilo bancário do senador Demóstenes Torres (DEM-GO), por cerca dois anos, período em que ele foi flagrado em conversas telefônicas com o empresário Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira -que foi preso pela Polícia Federal.

Lewandowski é o relator do inquérito sobre Demóstenes apresentado na terça-feira pelo procurador-geral da República, Roberto Gurgel.

Gravações reveladas anteontem mostravam o nome do senador mencionado em conversas em que Cachoeira e integrantes de seu grupo discutiam cifras milionárias.

O ministro pediu ainda ao Senado a lista das emendas ao Orçamento apresentadas por Demóstenes -isso pode indicar que uma de suas linhas de investigação será analisar se o senador utilizou prerrogativas de seu cargo para favorecer Cachoeira.

Lewandowski negou, no entanto, pedido do procurador-geral para um depoimento de Demóstenes por entender que ainda não é a hora.

TROCA DE INFORMAÇÕES

Investigações da Polícia Federal apontam que Cachoeira repassou informações sobre apurações contra o seu grupo a Demóstenes.

A Folha obteve 12 mil páginas do inquérito da PF que culminou na Operação Monte Carlo. Ela investigou Cachoeira e mais 80 pessoas, todos denunciados neste mês pelo Ministério de Público Federal sob acusação de explorar máquinas caça-níquel e corromper agentes públicos para manter o negócio.

No inquérito, o nome de Demóstenes aparece, por exemplo, num relatório da PF sobre um diálogo gravado com autorização judicial no dia 13 de março do ano passado, às 15h37.

Nele, conversam Carlinhos Cachoeira e o sargento aposentado da Aeronáutica Idalberto Matias, o Dadá -apontado pela Procuradoria como o principal araponga da quadrilha. Ambos estão presos.

De acordo com a PF, eles falavam sobre investigações sigilosas que o grupo sofria à época, quando a Monte Carlo já estava em andamento.

Cachoeira mostrava preocupação com o grau de profundidade das apurações. Dadá tentou tranquilizá-lo, argumentando que se tratava de investigações "a baixo nível" e que uma informante havia exagerado em seu relato sobre elas.

Cachoeira respondeu: "Então excelente. Vou passar pro Gordinho a informação". O relatório da PF afirma que "Gordinho" é Demóstenes.

Investigadores disseram à Folha que o senador de fato recebia esse tipo de informação do empresário. O relatório não elabora, contudo, para que Demóstenes a usaria.

Uma das suspeitas da PF, que será apurada pela Procuradoria-Geral da República em seu inquérito aberto contra o senador, é que ele também municiava Cachoeira com dados sigilosos, inclusive de investigações policiais.

A gravação da PF enfraquece o discurso de Demóstenes no plenário do Senado. Da tribuna, em 6 de março, ele disse conhecer o empresário, mas não as atividades ilegais.

Outro diálogo revela que Demóstenes atuava para ajudar Cachoeira na escolha de integrantes para o governo de Goiás, comandado pelo tucano Marconi Perillo.

Em conversa em janeiro de 2011, o empresário menciona duas vezes o nome do senador a um integrante de seu grupo, de acordo com a PF.

No diálogo, ambos discutem a intervenção do senador na nomeação para um cargo estratégico em Goiás, sem especificar qual. "Já mandei avisar ele. O Demóstenes já está ligando para o Marconi", disse Cachoeira, que repetiu logo depois: "O Demóstenes já ia ligar para ele".

Colaborou FELIPE SELIGMAN, de Brasília

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