São Paulo, sexta-feira, 15 de abril de 2011

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Papéis revelam "manual" de grupo armado na ditadura

Documentos da Aeronáutica detalham regras de conduta da VAR-Palmares

Informe da organização, da qual Dilma fez parte, está em lote liberado pelo Arquivo Nacional após décadas de sigilo


RUBENS VALENTE
JOÃO CARLOS MAGALHÃES

DE BRASÍLIA

Documentos produzidos pelo serviço de inteligência da Aeronáutica sobre a VAR-Palmares, grupo de combate à ditadura militar (1964-85) do qual a presidente Dilma Rousseff participou, revelam que a organização seguia rígidos códigos de conduta.
De acordo com papéis liberados à consulta pública pelo Arquivo Nacional nesta semana após quatro décadas de sigilo, os integrantes da organização seguiam uma espécie de "manual do guerrilheiro" e se dividiam em 33 núcleos, incluindo um "grupo de ação violenta".
Chamado "Resumo de Conselhos e Medidas de Segurança e Trabalho Clandestino", o manual de 25 páginas foi classificado pelos militares como "peça valiosa" e de "grande interesse" para conhecimento do grupo.
Para a Aeronáutica, o documento mostrava os militantes "decididos e imbuídos a, através da autocrítica e cega obediência às regras disciplinares, atingirem o alto grau de coesão, fortalecimento e determinação que, na opinião dos militantes, os levará a atingir os objetivos finais a que se propõem".
O manual diz como os guerrilheiros deveriam agir em caso de prisão e como deveriam se vestir para encontros com operários, além de recomendar que todos aprendessem a escrever com as duas mãos para disfarçar a autoria de suas cartas.
Outro documento da VAR citado pelos militares no mesmo relatório, chamado "Normas para Funcionamento em Segurança da Esquadra", afirma que o militante que não cumprisse as regras do grupo estaria sujeito a "sanções".

AÇÕES NO INTERIOR
Um terceiro documento da Aeronáutica, datado de novembro de 1969, diz se basear em depoimentos prestados ao Exército por um militante da VAR que fora preso meses antes -o nome foi encoberto por uma tarja preta na cópia do papel liberada à Folha pelo Arquivo Nacional.
O militante teria revelado que o principal objetivo da VAR no final daquela década era criar uma "Coluna Guerrilheira", que instalaria a luta armada no interior do país.
O informante listou quatro lugares possíveis: Minas, Paraná, Mato Grosso e uma região entre Goiás e Maranhão.
Um grupo urbano da VAR ficara encarregado de obter dinheiro, por meio de assaltos ou "expropriações", para alimentar o foco rural.
A Folha revelou, no ano passado, que uma das funções de Dilma na organização era zelar, junto com outros dois militantes, pelo arsenal do grupo. A presidente nega ter participado de ações armadas, mas admite ter feito treinamento militar.


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