São Paulo, terça-feira, 28 de setembro de 2010

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Justiça derruba censura à imprensa no TO

TRE local cassa liminar de desembargador que proibia 86 veículos de publicarem denúncias contra governador

Relatório diz que Carlos Gaguim participou de fraudes em licitações, que causaram prejuízo de R$ 615 mi; ele nega

ESTELITA HASS CARAZZAI
JOÃO PAULO GONDIM

DE SÃO PAULO

O TRE (Tribunal Regional Eleitoral) do Tocantins derrubou ontem a decisão que proibia veículos de comunicação de publicarem notícias relacionando o governador do Estado e candidato à reeleição, Carlos Gaguim (PMDB), a um suposto esquema de fraudes em licitações.
A proibição havia sido ordenada na última sexta-feira por um desembargador do TRE, atendendo a um pedido do próprio Gaguim.
O candidato argumentava que as denúncias contra ele haviam se tornado públicas por vias ilegais, já que a investigação corre em segredo de Justiça.
A relação dele com um suposto esquema de corrupção é investigada pelo Ministério Público de São Paulo.
Um relatório interno do órgão, que veio a público na última sexta-feira, afirma que o governador teve "participação direta" em fraudes de licitações, com prejuízo estimado em R$ 615 milhões. Gaguim nega participação.
Na ocasião, o desembargador Liberato Póvoa, que possui parentes empregados no governo, acatou a argumentação e concedeu uma liminar (decisão provisória) proibindo 86 veículos de noticiarem as denúncias.
"O que se veicula maliciosamente na mídia é fruto de informação obtida por meio de ilícito que, por si só, deveria ser rechaçado pela mídia", disse o juiz.
Ontem, o tribunal derrubou a decisão e acatou recurso do Ministério Público Federal, que pedia a extinção da liminar baseado no princípio do sigilo da fonte.
"A origem da informação não tem relevância para que a imprensa possa noticiá-la", argumentou a procuradoria, que defendeu "o direito de todos os cidadãos tocantinenses à informação".
Ontem pela manhã, a coligação de Gaguim havia pedido a extinção da liminar, depois que a notícia sobre a proibição teve ampla repercussão na mídia.
Jornais locais protestaram contra a decisão da Justiça. A TV Band Tocantins, por exemplo, divulgou uma receita de bolo em seu telejornal, logo após anunciar a decisão da Justiça.
"Foi uma forma de manifesto, para lembrar a época do regime militar, do AI-5", diz o diretor de jornalismo da emissora, Fernando Hessel.
Também ontem, cerca de 2.000 pessoas protestaram em frente ao TRE contra a decisão, numa manifestação organizada pela campanha de Siqueira Campos (PSDB), adversário de Gaguim.
Em comício na noite de anteontem, Gaguim defendeu a liberdade de imprensa e negou que estivesse a favor da censura. "No nosso governo, nunca teve e nunca haverá mordaça. O que estão falando por aí é sinal de desespero", afirmou Gaguim.
O candidato afirmou que houve um "erro de interpretação" por parte de sua assessoria jurídica ao fazer o pedido à Justiça. Segundo ele, a proibição deveria atingir apenas as propagandas eleitorais de seu adversário Siqueira Campos, e não a imprensa em geral.


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