UOL


São Paulo, sábado, 09 de agosto de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Relações internacionais



Brasil, México, África do Sul, Índia e China Diálogo entre os que Chegaram Depois
Organizadores: Glauco Arbix, Alvaro Comin, Mauro Zilbovicius e Ricardo Abramovay
Edusp/Ed. Unesp (Tel. 0/xx/11/3242-7171)
340 págs., R$ 42,00


Apesar da heterogeneidade dos temas abordados na coletânea, uma questão sobressai: é impossível traçar caminhos unívocos para o desenvolvimento. O seu tratamento conceitual e prático ficou inconcluso no século 20. Os textos relativos ao desenvolvimento, com distintas ênfases, insistem no fracasso do modelo liberal. Cabe observar que mais difícil é a formulação de propostas, ainda que os autores arrisquem algumas idéias: ênfase no emprego e na renda, políticas industriais, temas estruturantes da análise de Rubens Ricupero. Dani Rodrik e Assad Omer sublinham o papel dos arranjos e das capacidades institucionais. As políticas agrícolas: não se percebem nelas implicações abrangentes de desenvolvimento, vistas as contradições existentes, no plano local (Brasil, Índia) e em escala internacional. As análises de aspectos particulares dos casos chinês, da África do Sul e do México indicam os limites ao desenvolvimento sustentável. Francisco de Oliveira, com seu ceticismo, radicaliza o raciocínio, mostrando a gravidade do desmonte das instituições brasileiras criadas para promover o desenvolvimento.



Mercosul e Alca - O Futuro Incerto dos Países Sul-Americanos
Henrique Rattner
Edusp (Tel. 0/xx/11/3091-4008)
228 págs., R$ 30,00

Trata-se de obra militante, normativa. Rattner é um intelectual humanista, qualidade não comum na virada de século. Autor de larga trajetória, reflete agora sobre a situação do Brasil no contexto da globalização, no Mercosul, nas negociações sobre a Alca e com a União Européia. Sua visão é pessimista. A influência dos acontecimentos recentes na Argentina, suas relações com o Brasil servem de fundo para pensar possibilidades futuras. Rattner insiste que nenhuma política econômica e de integração é possível se os atores sociais não participam e não conseguem obter papel institucional. Ao mesmo tempo, um projeto só alcança sucesso se inserido numa lógica de sustentabilidade, que contemple os aspectos ambientais. Disso surge a importância da América do Sul, apresentada como âmbito de integração possível, mais lógico do que os outros existentes ou propostos. Um verdadeiro libelo em favor do protagonismo social, a desfazer lógicas economicistas.


A Grande Ilusão
Norman Angell
Tradução: Sérgio Bath
Imprensa Oficial do Estado/Ed. UnB (Tel. 0/xx/61/226-6874)
310 págs., R$ 37,00


Neste livro, de 1910, Angell discute a questão da guerra (e da paz) sob o ângulo da racionalidade. A dos Estados, das sociedades, das pessoas. Na guerra todos são perdedores, diz ele. O desenvolvimento tecnológico do final do século 19 tornou-a altamente mortífera. Desenvolvimento econômico, comércio, finanças, tudo sugere interpenetração, interesse compartilhado. Angell, não explicitamente, parte da idéia de que o Estado não é o sujeito único das relações internacionais, mas a sociedade, os grupos, as pessoas. Cooperação é sinônimo de civilização; portanto, mais educados os povos, menor o risco de guerra. O autor teve grande influência no pensamento pacifista: não se trata de uma visão ingênua da paz nem do desarmamento unilateral. Trata-se da necessidade de perceber que os interesses nacionais vitais, o bem-estar, são favorecidos pela cooperação. Mais do que idealismo, Angell aproxima-se da concepção liberal das relações internacionais. Os seres humanos seriam levados à racionalidade por perceberem que esta lhes é mais vantajosa, erradicando o leão e a raposa que às vezes escondem.



Direito Internacional e Estado Soberano
Hans Kelsen e Umberto Campagnolo
Organizador: Mario G. Losano
Tradução: Marcela Varejão
Martins Fontes (Tel. 0/xx/11/3241-3677)
209 págs., R$ 27,00


Livro de estrutura complexa e de forte interesse neste início de século. O eixo condutor é o debate entre Kelsen e seu orientando, Campagnolo, em 1937, em Genebra. Losano parte daí para rever a relação intelectual de Kelsen com a Itália. Bobbio explica o sentido do debate que surge do exame crítico da tese de Campagnolo. A polêmica mantém forte atualidade. Para Campagnolo, "a Sociedade das Nações de Genebra apresenta-se contemporaneamente sob ambos os aspectos: o particularismo da aliança e o universalismo da conferência", levando à "esterilidade". Para ele, se a organização internacional tivesse poder legislativo, seria inevitável o imperialismo ou a federação. Ao não existir nenhuma das duas situações, decorre o fracasso. A idéia de soberania, de direito estatal, implica limites definitivos para qualquer órgão internacional. Kelsen busca mostrar como, nesse caminho, o que prevalece é o conceito romano de "jus gentium" e uma concepção imperialista de direito internacional.

TULLO VIGEVANI

é professor de relações internacionais e de ciência política na Universidade Estadual Paulista , em Marília.

Texto Anterior: O longo declínio econômico
Próximo Texto: Dramaturgia da recordação
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.