São Paulo, sábado, 11 de agosto de 2001

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O espaço globalizado

Enigmas da Modernidade-Mundo
Octavio Ianni
Civilização Brasileira (Tel. 0/xx/21/2585-2000)
320 págs., R$ 36,00

Sociólogo é um tipo esquisito: nem o autor nem Carlos Nelson Coutinho, no texto da orelha, denominam o conjunto de textos com seu justo nome -bem escritos, como exige o gênero, consistem em "ensaios". Ianni é ensaísta desde a dedicatória. É espantoso que ele, conscientemente circulando por diversos saberes, não enuncie o gênero mais apto à apreensão da "modernidade-mundo", cuja prova seria seu próprio livro. Sopesado no primeiro capítulo -a metáfora da viagem também se configura como introdução aos benefícios do ensaio-, Ianni faz do gênero instrumento de compreensão da sociedade contemporânea, percorrendo diversos temas para alcançar a denominada globalização, entrevista já no início dos tempos modernos como processo de ocidentalização, acoplado ao nascimento do capitalismo moderno, sendo os descobrimentos um acabado exemplo. Longa viagem. Cruzando portas ou saberes, Octavio Ianni mapeou o(s) processo(s) de mundialização da Terra sem indagar, contudo, quem ganha e quem perde com a globalização.

O Brasil - Território e Sociedade no Início do Século 21
Milton Santos e Maria Laura Silveira
Record (Tel. 0/xx/21/2585-2000)
490 págs., R$ 45,00

Mapeamento do Brasil na época da constituição do território como meio técnico-científico-informacional. A configuração do espaço geográfico brasileiro demarcada, neste livro, de forma analítica e sintética também serviria como exemplo de necessária diligência acerca do novo caráter dos territórios de uso mundializados. Tanto a teoria como a linguagem procuram acentuar o movimento, a fluidez e as mutações dos lugares, hoje submetidos ao controle dialético da "banca" e da informação. O espaço geográfico brasileiro foi dividido em quatro brasis, unificados sudeste e sul em uma "região concentrada", cujos fluxos de capital, movimento e extrema divisão de trabalho multiplicar-se-iam mais que a própria metrópole paulista. Oito estudos de caso completam o livro. Realizados, em sua maioria, por pós-graduandos, funcionam como exemplo dos variáveis usos do território.

Ecopolítica Internacional
Philippe Le Prestre
Tradução: Jacob Gorender
Ed. Senac (Tel. 0/xx/11/284-4322)
518 págs., R$ 52,00

A aventura humana na Terra só prosperou devido à permanência de certas condições ambientais. A estabilidade climática, resultante de vários fatores, contribuiu para a realização de gêneros de vida que estariam acoplados ao ritmo e à diversidade das regiões. Ante a aguda crise do meio ambiente que veio à tona nos últimos 30 anos por meio de constantes distúrbios ambientais, causada, entre outros motivos, pelo uso do carvão mineral e do petróleo, Le Prestre recapitula as dificuldades do debate ecológico internacional -como a tendência, típica entre cientistas, de despolitizarem problemas de sobrevivência pela via da explicação científica. Manual de relações internacionais -aborda o papel do Estado e o significado da soberania, as políticas de desenvolvimento, as relações Norte-Sul, as trocas internacionais e seus órgãos reguladores-, o livro lê o ambiente como o substantivo território dessas relações. Desse ponto de vista, cientistas e militantes da causa ambiental transformam-se em personagens menores. Para Le Prestre, a geopolítica do século 21 ganha outro nome: ecopolítica internacional.

Uma Estranha Ditadura
Viviane Forrester
Tradução: Vladimir Safatle
Ed. Unesp (Tel. 0/xx/11/232-7171)
192 págs., R$ 19,00

Didática indignação contra o neoliberalismo, denominado de ultraliberalismo pela autora. Texto de divulgação, servindo de arma para o leitor desconfiado e zonzo com o monolítico massacre do discurso neoliberal, disseminado por personagens da academia como representantes a granel do sistema financeiro, todos -sobretudo no Brasil- comparsas dos meios de comunicação. Embora dissociando globalização de neoliberalismo, valendo a primeira como elemento histórico a que chegou o atual estado da coisas, sendo mesmo bem-vinda a novidade tecnológica -o que para os brasileiros queda em grave problema, uma vez que minimiza o papel fundador da Trilateral, obscurecendo, ademais, a possibilidade de o Brasil realizar conhecimento/ tecnologia a partir dos trópicos-, o livro importa porque, pedagogicamente, discorre sobre o desemprego como parte da estrutura que alavanca mais lucro para os grandes conglomerados e fundos de pensão, além de elencar argumentos contra o segregador ensino profissionalizante.

JULIO AMBROZIO



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