São Paulo, Sábado, 11 de Setembro de 1999 |
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Interação espacial
JOÃO MASAO KAMITA
No caso de edificações com exigências específicas ou um programa mais complexo (Clube Harmonia, 1964; Hospital-Escola Julio de Mesquita, 1968), a área de socialização requer grandes estruturas com vãos extensos e de alta expressividade plástica; para isso, nos edifícios mais altos um grande vazio central atravessa verticalmente todo o interior. Nesses termos, diante da desordem urbana vigente, a obra de Penteado é, de fato, instigante e crítica, propondo uma noção ativa de espaço que estimula a interação social. Porém, como projeto editorial, o livro não acolhe a idéia provocativa de arquitetura do autor em pauta e se limita a descrever os fatos e apresentar os projetos, como se a descrição neutra ou objetiva propiciasse a melhor avaliação. Silencia-se, assim, a fala das obras. E, sob tal mudez, algumas das questões postas pelo arquiteto perdem relevo. Como situar a influência de Reidy e de Aalto na formação desse arquiteto? Como o conceito de "praça", tão caro à "escola paulista", alcança no caso uma singularidade poética? Do ponto de vista visual, o livro tampouco é satisfatório. Há excesso de recursos gráficos na representação dos projetos: desenhos técnicos, maquetes, imagens digitais, fotos e, principalmente, uma variedade de croquis que turvam a compreensão. O excesso de vistas em perspectiva (o mesmo ângulo é apresentado via maquete, via computador e via croqui) toma o lugar da planta-baixa, que é o meio da projeção sintética do espaço. Reduzido esse instrumento a um tamanho minúsculo, não se faz a síntese entre as vistas e a projeção em planta; logo, não se lêem os projetos. Assim, o mérito de difundir publicamente uma arquitetura relevante sucumbe ante uma certa concepção da informação como algo pragmático e da imagem como algo decorativo. João Masao Kamita é arquiteto e professor de história social da cultura na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Texto Anterior: Nelio Bizzo: A conquista da terra Próximo Texto: Antonio Arnoni Prado: Entre agulhas e preconceitos Índice |
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