São Paulo, sábado, 13 de julho de 2002

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Sobre o Modernismo

Manuel Bandeira
Uma Poesia da Ausência
Yudith Rosembaum
Edusp (Tel. 0/xx/11/3091-4008)
207 págs., R$ 25,00

Trata-se de um trabalho ousado em teoria literária, aproximando biografia e obra e preenchendo com a explicação psicanalítica o espaço de interseção desses dois campos, visto com reticências ou cuidado pela crítica contemporânea. A autora percorre a obra do poeta numa "dinâmica psicopoética", apoiando-se substancialmente em Freud e Lacan e amparando-se nos estudos estilísticos de base spitzeriana. Assim instrumentalizada, desenvolve análise do tema central, a ausência, observada em "topoi" recorrentes na poesia de Bandeira, a infância e a morte, a distância e o erotismo. O principal encanto do trabalho localiza-se na primeira parte, no entrelaçamento dos "topoi" centrais. Aí se aborda a relação entre a infância e suas referências concretas -a apontar a ausência de um mundo distante só recuperado na poesia- e a morte, fantasma a rondar o poeta que, tuberculoso desde muito cedo, sempre esperou por ela que, no entanto, só chegou quando tinha 82 anos.

Serafim Ponte Grande e as Dificuldades da Crítica Literária
Pascoal Farinaccio
Ateliê (Tel. 0/xx/11/4612-9666)
234 págs., R$ 25,00

Obra dotada de alto nível de elaboração e agudeza de análises e que contribui para enriquecer e avançar os pouquíssimos estudos existentes sobre a "batata quente" que é "Serafim Ponte Grande" para a crítica brasileira, em especial a acadêmica. O autor transita com liberdade e domínio por entre a teoria e a fortuna crítica oswaldiana, utilizando-as de maneira a ampliar a compreensão da narrativa, sem forçar esta a adequar-se àquelas. A obra do escritor modernista é "decodificada" a partir de um outro padrão de legibilidade, diferente do realista, ao qual mesmo o leitor contemporâneo se habituou. Decisiva para a interpretação do romance é a contextualização de "Serafim" em relação à antropofagia e desta no interior da história, o que ajuda a esclarecer aspectos fundamentais da obra e do pensamento político e estético de Oswald.

Morte e Alteridade em "Estas Estórias"
Edna Tarabori Calobrezi
Edusp (Tel. 0/xx/11/3091-4156)
263 págs., R$ 25,00

Este livro também busca na psicanálise os recursos para a análise dos temas recorrentes no conjunto destas narrativas de Guimarães Rosa, em particular a morte e a alteridade. Concentra o estudo no narrador e no "outro", com quem este se relaciona, presente na narrativa como interlocutor, às vezes destacando apenas sua contraparte cultural, outras o duplo psíquico. Entretanto, na heterogeneidade da obra em foco (reunida postumamente por Paulo Rónai), nem sempre os dois temas privilegiados oferecem o mesmo potencial para a investigação. Há momentos em que a abordagem analítico-descritiva do percurso se desloca, com prejuízo para um dos termos. O conceito freudiano de "estranho", principal foco teórico, é bem aproveitado nas narrativas caracterizadas pela contaminação inquietante do humano por entes de mundo diverso, como em "Meu Tio Iauaretê" e "Páramo". Apesar da irregularidade na abordagem dos contos, trata-se de contribuição inegável para o estudo do livro.

Poesia, Mito e História no Modernismo Brasileiro
Vera Lúcia de Oliveira
Edifurb/ Unesp (Tel. 0/xx/11/3242-7171)
342 págs., R$ 35,00

De tese elaborada na Itália -onde a autora é professora-, esperava-se a contribuição da teoria crítica local e dos especialistas italianos em literatura brasileira, com quem a autora conviveu. Infelizmente ela se baseou apenas na historiografia brasileira mais conhecida e em estudos históricos consagrados sobre o modernismo, mantendo-se numa superfície já palmilhada. Discute a poesia indianista romântica e três poetas modernistas -Oswald de Andrade, Cassiano Ricardo e Raul Bopp- que se voltaram para o passado histórico ou mítico do Brasil. O trabalho ressente-se da ausência de uma discussão crítica das noções de mito, história e literatura. Tão-só a identificação de elementos dessas instâncias não é capaz de conferir estatuto literário às obras. Perde-se também o vínculo entre os dois períodos que estuda, já que a história desaparece no trabalho, relegada a uma presença episódica e temática.

NEIDE LUZIA DE REZENDE


é professora de metodologia do ensino de língua portuguesa na USP.


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