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Tempestade e ímpeto
Os Bandoleiros
Friedrich Schiller
Tradução: Marcelo Backes
L&PM (Tel. 0/xx/51/3225-5777)
252 págs., R$ 29,00
A atmosfera desta primeira peça de Schiller, de 1781, quando
tinha 22 anos, é o movimento "Sturm und Drang" ("Tempestade e Ímpeto"): uma linguagem nervosa e naturalista, permeada
de interjeições e personagens que vivem sob o signo da paixão
violenta, numa ação marcada pela excitação ininterrupta. A opção de Karl Moor e de seus amigos de serem bandoleiros remete
à figura do libertino, como emancipação humana contra o artificialismo das leis sociais. Mas o talento de Schiller vai além de
um mero protesto: sob o fundo religioso e moral, nasce um programa para o teatro que transcende o nível das paixões. Não se
trata de uma oposição rígida entre o bem e o mal, a burguesia e a
corte, tal como ainda vemos na "Emília Galotti", de Lessing.
Reatando com a grande tragédia grega, mas no horizonte do
cristianismo (a trama baseia-se na parábola do filho pródigo),
bem e mal se aproximam perigosamente e se tornam ambos
culpados, ou seja, encontram-se subordinados a uma ordem de
mundo mais elevada. "Duas pessoas como eu", diz Karl no fim
da peça, "haveriam de botar por terra todo o edifício do mundo
moral".
Hipérion ou o Eremita na Grécia
Friedrich Hölderlin
Tradução: Erlon José Paschoal
Nova Alexandria (Tel. 0/xx/11/5571-5637)
182 págs., R$ 26,00
Com "Hipérion" (1796) a experiência alemã da Grécia, iniciada havia três décadas com Winckelmann, torna-se dolorosa e
reflexiva. Já não se olha mais diretamente para a Antiguidade
como o lugar da serenidade e simplicidade, e sim acentua-se a
diferença entre o que eles foram e o que nós, modernos, somos,
sob o ângulo não da simpatia ingênua, mas do estranhamento.
O idealismo apolíneo dá lugar ao dionisíaco, a algo perdido e
inalcançável. As duas partes do romance epistolar indicam essa
passagem: inicialmente a relação com a Grécia é alegre e luminosa, dominada pelo amor. Os deuses bem-aventurados e infinitos acolhem os homens e imprimem harmonia à finitude. Na
segunda parte, o herói Hipérion vai para a Alemanha cindida e
sente profundamente o abandono dos deuses que marca a época moderna. Para o jovem Hölderlin, porém, há uma saída: a
união com o todo da natureza, que está também na origem da
formação do mundo antigo e permite, indiretamente, sua presença. Devem-se destacar nesta nova tradução a fluência e os aspectos literários, superiores à anterior, da editora Vozes.
A História Maravilhosa de Peter Schlemihl
Adelbert von Chamisso
Tradução: Marcus Vinicius Mazzari
Estação Liberdade (Tel. 0/xx/11/3825-4239)
160 págs., R$ 23,00
Na linha dos contos de E.T.A. Hoffmann, esta obra de Adelbert von Chamisso (1781-1838) constitui uma das mais importantes e conhecidas produções literárias do romantismo. No
centro do enredo está a história de um homem que vendeu sua
sombra por uma inesgotável bolsa da fortuna e, a seguir, tornou-se infeliz por essa troca, pois na sociedade de nada vale todo o dinheiro do mundo se não se possui uma sombra. Muito se
discutiu sobre o sentido preciso dessa sombra. Mas talvez o procedimento de procurar o sentido profundo da obra não seja o
mais adequado, como diz Thomas Mann no posfácio traduzido
nesta edição, ao classificá-la como uma "novela fantástica".
Com efeito, combinando elementos oriundos do universo do
conto de fadas com o tema do pacto com o diabo, esta novela se
coloca sobretudo como um produto da fantasia, a ser desfrutado como tal. A atual edição reforça essa tese, ao traduzir cartas
do círculo romântico ao qual pertencia Chamisso, que indicam
o clima jovial e espirituoso de gestação da novela.
Woyzeck
Georg Büchner
Tradução: Tércio Redondo
Hedra (Tel. 0/xx/11/3097-8304)
119 págs., R$ 31,00
Sob vários aspectos "Woyzeck" (1836) é um marco da história
do teatro. Pela primeira vez encontramos reunidos os principais
temas do teatro do século 19: o colapso da moralidade e do idealismo, a pobreza, a solidão interior e o tema do indivíduo sem
rumo certo, enredado em problemas familiares e existenciais. A
trama tem como ponto de partida um fato real, a história de um
certo Woyzeck, que, ao perder o seu emprego, torna-se mendigo e é julgado pelo assassinato de sua amante. Partindo das reações conservadoras diante do episódio, Büchner constitui uma
situação que tem como colisão as diferentes posições repressoras (a idealista, a moral e a cientificista) da sociedade diante da
pobreza, tida como um fenômeno da natureza. Tudo isso sufoca
Woyzeck e o leva à ruína. No plano linguístico e pelo ambiente
cinzento, mas ao mesmo tempo sonhador e lírico, a peça antecipa traços do teatro expressionista. Vale destacar o empenho de
tradução da complexa linguagem de Büchner; a apresentação e
as notas também são muito úteis para a percepção das dificuldades que se põem para a representação desta que é uma das peças alemãs mais encenadas em todos os tempos.
MARCO AURÉLIO WERLE é professor do departamento de filosofia da USP.
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