Ribeirão Preto, Domingo, 04 de Julho de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Ouvidoria investiga violência policial

PM de Sertãozinho é alvo de denúncias por supostos excessos na abordagem de pessoas e até por agressões

Guarda Civil também é acusada; ouvidor pediu afastamento dos envolvidos, mas todos continuam trabalhando

PAULO GODOY
ENVIADO ESPECIAL A SERTÃOZINHO

A história recente da cidade de Sertãozinho, com 111 mil habitantes, está ligada à evolução do setor sucroalcooleiro nacional. Nos últimos meses, no entanto, outra questão também tem feito a cidade ficar conhecida: a violência policial.
Em um período de um ano, a Ouvidoria da Polícia do Estado de São Paulo e a Comissão Teotônio Vilela, de defesa dos direitos humanos, receberam diversas denúncias de excesso de força de policiais militares e também de guardas civis municipais.
A Folha teve acesso a seis denúncias, com boletins de ocorrência registrados. Três situam PMs em perseguições, agressões com socos e até ferimentos à bala.
O ouvidor, Luis Gonzaga Dantas, pediu formalmente o afastamento de todos os policiais envolvidos, o que até agora não aconteceu.
O comando da PM de Sertãozinho disse que apura as denúncias, mas defende cautela nas acusações. A chefia da Guarda Civil Municipal diz não ver erros (leia texto nesta página).
Os casos restringem-se aos PMs integrantes da Força Tática, tropa considerada de elite. Em três situações, o abuso é incontestável, segundo relato à Folha de familiares e testemunhas.
Um deles envolve a advogada Eugênia Maria Mauri Giani. Após discutir com policiais que, segundo ela, pretendiam entrar na casa de uma cliente, Giani conta que passou a ser ameaçada.
Um dia, conta que o subtenente Ribeiro a alertou: "Doutorinha, cuidado, você tem uma filha".
"Desde então, não tive mais sossego. Minha filha, que tem cinco anos, não pode ver um carro de polícia que começa a chorar. Ninguém imagina o que é viver com o medo constante de ser abordada na rua."
Em março, a mãe de um adolescente de 15 anos, que já teve envolvimento com drogas, conta que o filho dirigia um carro quando começou a ser perseguido por PMs. Os policiais, pelo relato, atiraram no carro. Um dos disparos atingiu o rapaz nas costas, perfurando fígado, rim e pulmão.
Testemunhas contam que o carro guiado pelo adolescente "desapareceu" e só foi apresentado pelos PMs quatro horas depois. A mãe conta que, no dia seguinte, o mesmo subtenente Ribeiro foi a sua casa e sugeriu que ficasse calada, ou o policial "sumiria" com ela.
Em abril, nova denúncia: um adolescente de 17 anos entra na garagem, segundo ele, fugindo da polícia. A mãe diz que tentou impedir a entrada de PMs e levou coronhadas na cabeça. Os homens ainda deram socos e chutes no rapaz, conta a mãe, até que ele desmaiasse. Uma parente, ao tentar chamar um advogado, foi levada pelos PMs à delegacia. No caminho, diz, recebeu socos.


Texto Anterior: PMDB também está rachado na região
Próximo Texto: Comandos são coniventes com os abusos, afirmam entidades
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.