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Bolo de aniversário do menino
foi trocado pelo caixão do pai
ENVIADOS A SÃO CARLOS (SP)
A tragédia não tirou apenas a
vida dos entes queridos das famílias Lima e Nascimento, mas
deixou profundas marcas no
cotidiano dos envolvidos mais
inocentes dessa história.
No dia da morte de seu pai,
Jhonatan Roberto de Lima, hoje com 18 anos, esperava cortar
o bolo de seu quinto aniversário, mas os convidados da festa
acabaram ficando para o velório de José Roberto, o que deixou o menino confuso.
"No lugar do bolo colocamos
o caixão. O Jhonatan entendeu
que o pai tinha morrido, mas
mesmo assim queria cortar o
bolo. Ele era muito pequeno",
conta Lino, o tio, que, criou o
sobrinho junto com o pai.
Jhonatan parecia antecipar o
futuro. Ele nunca mais comemorou seu aniversário. Desde
então, alguns dias antes da data, o rapaz recebe os presentes,
mas no 5 de agosto, não celebra
seu nascimento.
A família ainda sofre muito
com as lembranças. Até as fotos
de José Roberto foram escondidas. Pai, mãe e irmãos choram ao falar dele. Jhonatan,
que espera trabalhar com informática, é mais conformado.
"Há coisas mais importantes
que isso. Não tenho clima para
comemorar meu aniversário
no mesmo dia em que meu pai
morreu. Meus amigos de verdade compreendem."
Agora, os Lima passarão também os Natais em branco, embora seu drama seja bem menor perto da falta de perspectiva do menino L.N., 11, que presenciou o assassinato do pai, a
quem só havia conhecido no
ano passado.
Ele, que foi gerado em uma
visita íntima que sua mãe fez ao
pai na prisão, divide uma casa
herdada do avô, condenada pela Defesa Civil, com os quatro
irmãos, a mãe e a avó. Todos vivem com uma pensão de pouco
mais de R$ 500. Não recebem
Bolsa Família porque as crianças não frequentam a escola.
Sem calçado, o garoto sai a
convite da mãe para conversar
com a reportagem. Não fala nada. Cabisbaixo, volta para dentro de casa. A mãe se justifica:
"Ele diz que não adianta falar,
pois nada vai trazer seu pai de
volta."
(JAMES CIMINO e MARLENE BERGAMO)
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