Ribeirão Preto, Quinta-feira, 12 de Novembro de 2009

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Corte da cana fecha 23 mil vagas, diz estudo

Pesquisa da Unesp de Jaboticabal aponta que o número de vagas caiu 12,7% no Estado num período de apenas dois anos

Segundo pesquisador, a queda já era esperada por causa da mecanização da colheita, mas não em volume tão grande


DA FOLHA RIBEIRÃO

A mecanização do corte da cana-de-açúcar tem reduzido significativamente o número de vagas para trabalhadores nos canaviais do Estado. É o que mostra pesquisa da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da Unesp (Universidade Estadual Paulista) de Jaboticabal, de junho de 2007 a junho deste ano, que diz que o total de boias-frias caiu 12,7%.
Em números absolutos, são quase 23 mil postos de trabalho a menos. A pesquisa avaliou os números que compõem a Rais (Relação Anual de Informações Sociais) e o Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), do Ministério do Trabalho e Emprego.
Segundo o professor José Giacomo Baccarin, do Departamento de Economia Rural da faculdade, em junho de 2007 eram 179.561 trabalhadores contratados para o corte da cana no Estado. O número de registrados no ano seguinte, em junho de 2008, caiu 2,19%, para um total de 175.662.
Já em junho deste ano, a queda foi ainda maior (10,84%) e o total de boias-frias contratados para atuar no Estado de São Paulo foi de 156.627.
Segundo Baccarin, a queda no número de contratados para o corte da cana já era esperada por causa do aumento da mecanização da colheita, mas não em volume tão grande.
Apesar disso, de acordo com ele, os boias-frias continuam representando a principal força de trabalho do setor sucroalcooleiro e significam cerca de 50% do total dos empregados na atividade no país.
O pesquisador disse que o levantamento mostrou que os cortadores de cana vêm sendo substituídos por operadores de máquinas agrícolas, mas a abertura de vagas é inferior ao fechamento de postos de trabalho no campo. De 2007 a 2009, o total de operadores de máquinas contratados cresceu 14%, mas em números absolutos a alta é de 3.700, bem menor que os 23 mil boias-frias demitidos.
Para Baccarin, a falta de qualificação entre a maior parte dos cortadores de cana dificulta a recolocação profissional, como a migração dos trabalhadores do corte manual para a operação de colheitadeiras, por exemplo. "As máquinas são sofisticadas, o que dificulta."
Para amenizar o problema de fechamento de vagas, o professor afirma que uma das alternativas mais importantes é a criação de programas de qualificação profissional, para permitir a migração dos trabalhadores que perderam espaço no corte da cana para outras atividades produtivas.
Outra alternativa, segundo ele, seria o fortalecimento de ações de apoio à agricultura familiar nas regiões de origem dos migrantes que se dirigem ao corte da cana em São Paulo.
Segundo Baccarin, isso ajudaria a criar oportunidades de trabalho para os boias-frias em suas próprias regiões de origem, principalmente o Vale do Jequitinhonha (MG) e os Estados do Maranhão e Piauí.
Para a Pastoral do Migrante de Guariba, o trabalho feito pela entidade com os cortadores de cana reflete o fechamento das vagas, mas não tão "dramático" como a pesquisa da Unesp.


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