Ribeirão Preto, Sábado, 19 de junho de 1999

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Ribeirão adota migrantes e vira 'pátria dos forasteiros'

JOSÉ ALBERTO BOMBIG
de São Paulo
ALESSANDRO SILVA
da Folha Ribeirão

A cidade de Ribeirão Preto, que ao longo dos seus 143 anos, completados hoje, chegou a ser chamada de "Capital do Café" e de "Califórnia Brasileira", também poderia ser conhecida como a "Pátria dos Forasteiros".
Prova disso está no último censo do IBGE (Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), de 91: cinco em dez moradores entrevistados disseram que não haviam nascido na cidade.
São pessoas que acabaram atraídas de todas as partes do país e até do exterior à procura, principalmente, de emprego.
Na década de 70, os "forasteiros" chegaram a representar 60% da população de Ribeirão, ou seja, de cada dez pessoas, seis eram de fora e haviam migrado para a cidade.
Era a época dos incentivos ao programa do álcool como alternativa de combustível para enfrentar a crise do petróleo.
Do contingente de migrantes residentes no município em 96, mais da metade veio de outras cidades do Estado (52%). Os mineiros eram 13% e os baianos, 7%.
Os dados fazem parte da tese de doutorado da socióloga Rosana Baeninger, pesquisadora do Núcleo de Estudos de População da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
Para entender o processo de povoamento no interior, Rosana utilizou informações do IBGE (Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e da Fundação Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados) para montar tabelas exclusivas, não divulgadas nas publicações oficiais.
Até o final da década de 80, as taxas de crescimento populacional na cidade sempre superaram a média nacional.
Esse quadro muda nesta década porque as cidades vizinhas, influenciadas pela proximidade com Ribeirão, começam a crescer por conta própria.
"Ribeirão é o primeiro pólo de atração que se sobressai fora das fronteiras da metrópole, no caso, São Paulo, como aconteceu com Campinas e São José dos Campos", afirmou a pesquisadora.
Alguns dos municípios próximos, como Cravinhos e Jardinópolis, já servem como cidades-dormitórios e, no futuro, podem vir a pertencer à Grande Ribeirão Preto.
Por enquanto, de acordo com o IBGE, os limites da cidade ainda estão longe se fundirem com as cidades vizinhas.
Em 26 anos, o número de habitantes saltou de 318.496 para 456.252 pessoas.

Origem
No passado, os mineiros foram os primeiros "forasteiros" na região onde surgiu a cidade de Ribeirão Preto, que primeiro era conhecida como Vila de São Sebastião do Ribeirão Preto.
Eles começaram a rumar para o sertão de São Paulo no final do século 18. Nesse período da história, a cidade estava fora das rotas dos bandeirantes e desabitada.
"Essa migração começa exatamente após o declínio da extração de ouro em Minas Gerais", afirma o historiador José Antônio Lages, autor do livro "Ribeirão Preto: da Figueira à Barra do Retiro", onde descreve o início do povoamento na região.
Serão esses primeiros agricultores os responsáveis pela cafeicultura do final do século 19 e que levou o nome da cidade para o cenário político nacional.
Hoje, a busca pela cidade deixou de ser exclusivamente pelo emprego e já reúne outros atrativos, como a rede de saúde e o número de universidades.
Desse modo, surgem "forasteiros" que levam o nome da cidade além dos limites do país, como o ex-jogador Sócrates, da seleção e do Corinthians, e o maestro Roberto Minczuk, regente-assistente da Orquestra Filarmônica de Nova York (EUA) e titular da Orquestra Sinfônica de Ribeirão.

Consequência
O outro lado dessa migração pode ser medida pela expansão das favelas na cidade.
Elas triplicaram nos últimos três anos e, no último censo da prefeitura, em 91, abrigavam cerca de 27 mil pessoas.
No ano passado, a cidade bateu recorde em apreensão de crack (derivado da pasta de cocaína, só que cinco vezes mais forte) e do número de mortes violentas, mais de 200 em 12 meses.
Nesta década, após o lançamento do Plano Real, houve uma retração da economia local e a suposta "Califórnia" passou a crescer em um ritmo mais lento.
Pesquisa da Arquidiocese de Ribeirão Preto mostra que hoje há mais de 80 mil pessoas desempregadas ou vivendo de subempregos na cidade.

Atrativos
Mesmo com todos as mudanças no seu perfil, a cidade continua a atrair mais moradores, como a família do empresário Roberto Secches, 38, que decidiu trocar a correria de São Paulo pela "tranquilidade", como ele próprio diz.
"Acordo de manhã e posso respirar fundo no quintal da minha casa, sem poluição", disse o empresário.



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