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Ribeirão adota migrantes e vira 'pátria dos forasteiros'
JOSÉ ALBERTO BOMBIG
de São Paulo
ALESSANDRO SILVA
da Folha Ribeirão
A cidade de Ribeirão Preto, que
ao longo dos seus 143 anos, completados hoje, chegou a ser chamada de "Capital do Café" e de "Califórnia Brasileira", também poderia ser conhecida como a "Pátria
dos Forasteiros".
Prova disso está no último censo
do IBGE (Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística),
de 91: cinco em dez moradores entrevistados disseram que não haviam nascido na cidade.
São pessoas que acabaram atraídas de todas as partes do país e até
do exterior à procura, principalmente, de emprego.
Na década de 70, os "forasteiros"
chegaram a representar 60% da
população de Ribeirão, ou seja, de
cada dez pessoas, seis eram de fora
e haviam migrado para a cidade.
Era a época dos incentivos ao
programa do álcool como alternativa de combustível para enfrentar
a crise do petróleo.
Do contingente de migrantes residentes no município em 96, mais
da metade veio de outras cidades
do Estado (52%). Os mineiros
eram 13% e os baianos, 7%.
Os dados fazem parte da tese de
doutorado da socióloga Rosana
Baeninger, pesquisadora do Núcleo de Estudos de População da
Unicamp (Universidade Estadual
de Campinas).
Para entender o processo de povoamento no interior, Rosana utilizou informações do IBGE (Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e da Fundação
Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados) para montar tabelas
exclusivas, não divulgadas nas publicações oficiais.
Até o final da década de 80, as taxas de crescimento populacional
na cidade sempre superaram a média nacional.
Esse quadro muda nesta década
porque as cidades vizinhas, influenciadas pela proximidade com
Ribeirão, começam a crescer por
conta própria.
"Ribeirão é o primeiro pólo de
atração que se sobressai fora das
fronteiras da metrópole, no caso,
São Paulo, como aconteceu com
Campinas e São José dos Campos",
afirmou a pesquisadora.
Alguns dos municípios próximos, como Cravinhos e Jardinópolis, já servem como cidades-dormitórios e, no futuro, podem vir a
pertencer à Grande Ribeirão Preto.
Por enquanto, de acordo com o
IBGE, os limites da cidade ainda
estão longe se fundirem com as cidades vizinhas.
Em 26 anos, o número de habitantes saltou de 318.496 para
456.252 pessoas.
Origem
No passado, os mineiros foram
os primeiros "forasteiros" na região onde surgiu a cidade de Ribeirão Preto, que primeiro era conhecida como Vila de São Sebastião do
Ribeirão Preto.
Eles começaram a rumar para o
sertão de São Paulo no final do século 18. Nesse período da história,
a cidade estava fora das rotas dos
bandeirantes e desabitada.
"Essa migração começa exatamente após o declínio da extração
de ouro em Minas Gerais", afirma
o historiador José Antônio Lages,
autor do livro "Ribeirão Preto: da
Figueira à Barra do Retiro", onde
descreve o início do povoamento
na região.
Serão esses primeiros agricultores os responsáveis pela cafeicultura do final do século 19 e que levou
o nome da cidade para o cenário
político nacional.
Hoje, a busca pela cidade deixou
de ser exclusivamente pelo emprego e já reúne outros atrativos, como a rede de saúde e o número de
universidades.
Desse modo, surgem "forasteiros" que levam o nome da cidade
além dos limites do país, como o
ex-jogador Sócrates, da seleção e
do Corinthians, e o maestro Roberto Minczuk, regente-assistente
da Orquestra Filarmônica de Nova
York (EUA) e titular da Orquestra
Sinfônica de Ribeirão.
Consequência
O outro lado dessa migração pode ser medida pela expansão das
favelas na cidade.
Elas triplicaram nos últimos três
anos e, no último censo da prefeitura, em 91, abrigavam cerca de 27
mil pessoas.
No ano passado, a cidade bateu
recorde em apreensão de crack
(derivado da pasta de cocaína, só
que cinco vezes mais forte) e do
número de mortes violentas, mais
de 200 em 12 meses.
Nesta década, após o lançamento
do Plano Real, houve uma retração
da economia local e a suposta "Califórnia" passou a crescer em um
ritmo mais lento.
Pesquisa da Arquidiocese de Ribeirão Preto mostra que hoje há
mais de 80 mil pessoas desempregadas ou vivendo de subempregos
na cidade.
Atrativos
Mesmo com todos as mudanças
no seu perfil, a cidade continua a
atrair mais moradores, como a família do empresário Roberto Secches, 38, que decidiu trocar a correria de São Paulo pela "tranquilidade", como ele próprio diz.
"Acordo de manhã e posso respirar fundo no quintal da minha casa, sem poluição", disse o empresário.
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