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ECONOMIA 3
Ex-presidente da Ceterp lembra, por outro lado, que empresa enfrentou concorrência com telefonia celular
Com prefeitura, lucro seria de R$ 15 mi
DA FOLHA RIBEIRÃO
Se a Ceterp (Centrais Telefônicas de Ribeirão Preto S.A.) não tivesse sido privatizada no dia 28 de
dezembro de 1999, a empresa teria fechado o ano com um lucro
de pelo menos R$ 15 milhões.
Como a Telefônica assumiu a
Ceterp no dia 3 de janeiro de 2000,
o lucro milionário "transformou-se" em um prejuízo de R$ 28,476
milhões.
"A expectativa que eu tinha em
1999 era de um lucro de R$ 15 milhões a R$ 18 milhões. Dentro do
nosso plano de trabalho, o prejuízo não aconteceria", afirmou o
então presidente da empresa, Rui
Salgado Ribeiro.
Em um balanço parcial -que é
feito trimestralmente pelas empresas de capital aberto (as sociedades anônimas) e enviado à
CVM (Comissão de Valores Mobiliários)-, com os resultados
dos nove primeiros meses do ano,
a Ceterp apresentava um lucro de
R$ 13,578 milhões.
"Com esse lucro de janeiro a setembro, se você fizer uma regra de
três, vai perceber que o lucro chegaria à casa dos R$ 18 milhões no
ano", afirmou Salgado.
Para o economista Afonso Reis
Duarte, delegado regional do Corecon (Conselho Regional de Economia) e ex-membro do conselho
de administração da Ceterp, se a
empresa tivesse continuado nas
mãos da prefeitura -ou seja, se
não tivesse sido privatizada-, as
práticas contábeis adotadas pela
Telefônica não aconteceriam, e a
empresa municipal teria apresentado um lucro em seu balanço.
"Nós vínhamos com uma previsão em 1999, só que o balanço foi
elaborado no início de 2000, pela
administração da Telefônica, e
deu prejuízo", declarou.
Salgado afirmou, no entanto,
que a rentabilidade da Ceterp estava baixa devido à pendência judicial em relação a impostos federais -que não foram pagos em
1996 e que estavam sendo acertados durante sua gestão- e de outras dívidas, acumuladas entre
1994 e 1995.
Outro fator de queda da rentabilidade foi que, a partir de outubro, a Ceterp passou a sofrer uma
forte concorrência da Tess, e o lucro da área de celular da empresa
"caiu bastante". "Não chegou a
dar prejuízo, mas caiu."
Considerando esses fatores, Salgado afirmou que, em uma situação extrema, a empresa teria um
lucro de pelo menos R$ 15 milhões em 1999.
Mesmo assim, ele evitou condenar a manobra feita pela Telefônica no balanço do ano. "Se a Promotoria levantou isso [a ação civil
pública], deve ter algum mérito,
mas eu não tenho elementos para
discutir", declarou.
Duarte afirmou que o prejuízo
gerado pelo artifício contábil utilizado pela Telefônica prejudicou
os funcionários.
"A empresa deixou de ter lucro,
e eles [funcionários] deixaram de
receber a participação nos lucros", afirmou Duarte. Os acionistas minoritários, incluindo a
prefeitura, também foram prejudicados, segundo o economista,
por não receberem dividendos.
Desde a abertura de seu capital,
em 1996, a Ceterp apresentou lucro nos balanços enviados à
CVM. Em 1996, durante a gestão
do prefeito Antônio Palocci Filho
(PT), o lucro foi de R$ 6,9 milhões. No ano seguinte, o primeiro do tucano Luiz Roberto Jábali,
o valor foi menor, mas a empresa
manteve o balanço no azul, com
R$ 1,229 milhão. Em 1998, o lucro
foi de R$ 6,126 milhões.
Em todos esses anos, a prefeitura -até então acionista majoritária-, o IPM (Instituto de Previdência dos Municipiários) e os
pequenos investidores que tinham ações da empresa receberam dividendos.
(ES)
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