Ribeirão Preto, Domingo, 29 de Julho de 2001

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ECONOMIA 3
Ex-presidente da Ceterp lembra, por outro lado, que empresa enfrentou concorrência com telefonia celular
Com prefeitura, lucro seria de R$ 15 mi

DA FOLHA RIBEIRÃO

Se a Ceterp (Centrais Telefônicas de Ribeirão Preto S.A.) não tivesse sido privatizada no dia 28 de dezembro de 1999, a empresa teria fechado o ano com um lucro de pelo menos R$ 15 milhões.
Como a Telefônica assumiu a Ceterp no dia 3 de janeiro de 2000, o lucro milionário "transformou-se" em um prejuízo de R$ 28,476 milhões.
"A expectativa que eu tinha em 1999 era de um lucro de R$ 15 milhões a R$ 18 milhões. Dentro do nosso plano de trabalho, o prejuízo não aconteceria", afirmou o então presidente da empresa, Rui Salgado Ribeiro.
Em um balanço parcial -que é feito trimestralmente pelas empresas de capital aberto (as sociedades anônimas) e enviado à CVM (Comissão de Valores Mobiliários)-, com os resultados dos nove primeiros meses do ano, a Ceterp apresentava um lucro de R$ 13,578 milhões.
"Com esse lucro de janeiro a setembro, se você fizer uma regra de três, vai perceber que o lucro chegaria à casa dos R$ 18 milhões no ano", afirmou Salgado.
Para o economista Afonso Reis Duarte, delegado regional do Corecon (Conselho Regional de Economia) e ex-membro do conselho de administração da Ceterp, se a empresa tivesse continuado nas mãos da prefeitura -ou seja, se não tivesse sido privatizada-, as práticas contábeis adotadas pela Telefônica não aconteceriam, e a empresa municipal teria apresentado um lucro em seu balanço.
"Nós vínhamos com uma previsão em 1999, só que o balanço foi elaborado no início de 2000, pela administração da Telefônica, e deu prejuízo", declarou.
Salgado afirmou, no entanto, que a rentabilidade da Ceterp estava baixa devido à pendência judicial em relação a impostos federais -que não foram pagos em 1996 e que estavam sendo acertados durante sua gestão- e de outras dívidas, acumuladas entre 1994 e 1995.
Outro fator de queda da rentabilidade foi que, a partir de outubro, a Ceterp passou a sofrer uma forte concorrência da Tess, e o lucro da área de celular da empresa "caiu bastante". "Não chegou a dar prejuízo, mas caiu."
Considerando esses fatores, Salgado afirmou que, em uma situação extrema, a empresa teria um lucro de pelo menos R$ 15 milhões em 1999.
Mesmo assim, ele evitou condenar a manobra feita pela Telefônica no balanço do ano. "Se a Promotoria levantou isso [a ação civil pública], deve ter algum mérito, mas eu não tenho elementos para discutir", declarou.
Duarte afirmou que o prejuízo gerado pelo artifício contábil utilizado pela Telefônica prejudicou os funcionários.
"A empresa deixou de ter lucro, e eles [funcionários] deixaram de receber a participação nos lucros", afirmou Duarte. Os acionistas minoritários, incluindo a prefeitura, também foram prejudicados, segundo o economista, por não receberem dividendos.
Desde a abertura de seu capital, em 1996, a Ceterp apresentou lucro nos balanços enviados à CVM. Em 1996, durante a gestão do prefeito Antônio Palocci Filho (PT), o lucro foi de R$ 6,9 milhões. No ano seguinte, o primeiro do tucano Luiz Roberto Jábali, o valor foi menor, mas a empresa manteve o balanço no azul, com R$ 1,229 milhão. Em 1998, o lucro foi de R$ 6,126 milhões.
Em todos esses anos, a prefeitura -até então acionista majoritária-, o IPM (Instituto de Previdência dos Municipiários) e os pequenos investidores que tinham ações da empresa receberam dividendos. (ES)


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