Ribeirão Preto, Domingo, 29 de Julho de 2001

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AMBIENTE
Para órgão, Fábio Barreto tem 180 animais em condições inadequadas; diretor fala que funcionários são alcoólatras
Bosque precisa de reforma, afirma Ibama

Joel Silva/Folha Imagem
Vista do mirante com a mureta pichada


MARINA ROSSINI
FREE-LANCE PARA A FOLHA RIBEIRÃO
LUÍS EBLAK
EDITOR DA FOLHA RIBEIRÃO

Quase dois anos após sua reabertura, o Bosque Municipal Fábio Barreto tem pelo menos 180 animais em condições inadequadas, segundo a regional do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) de Ribeirão.
Esses animais, alguns em quarentena, ficam por um determinado tempo instalados num local chamado setor extra. De acordo com a chefe do Ibama de Ribeirão, Eliana Velocci Ramia, esse setor é inadequado e precisa passar por reforma.
O local tem 660 animais em exposição. Os 180 são os bichos que estão no chamado setor extra.
"Está claro para o Ibama que o local [o setor extra] está muito ruim", afirmou. Ela disse, porém, que uma nova interdição está descartada temporariamente.
O bosque ainda não tem o registro definitivo para funcionar como zoológico. Em 1996, o local foi interditado pelo Ibama porque tinha, na avaliação do órgão, à época, recintos inadequados para os animais.
O problema do Fábio Barreto, no entanto, não é um fato isolado. Embora seja o único zoológico da região sem o documento, o bosque é apenas um dos 18 do Estado sem o registro definitivo, segundo o Ibama. Há 43 zoológicos em São Paulo -sendo 25 totalmente legalizados.
Segundo a coordenadora do ecossistema do Ibama de São Paulo, Marilda Corrêa Heck, o registro final de zoológico pode não sair para o bosque de Ribeirão. "Se o setor extra não estiver de acordo, o registro pode não sair", disse Marilda.

Cartão postal
O bosque é uma das principais atrações de lazer de Ribeirão Preto e região. Em se tratando de opção gratuita, então, é uma das únicas da cidade. O local é bem agradável, típico para aqueles programas dominicais para tirar até fotos da família.
Só que nem sempre o programa pode ser dos melhores. Embora a direção do bosque negue, faltam monitores para orientar o público e guardas para a segurança.
No último domingo, por exemplo, a Folha visitou o local. Algumas pessoas jogaram comida para os macacos, bateram nos vidros dos répteis e gritaram com o gorila, deixando-o estressado. Não havia, no período da manhã, nenhum monitor nem guarda para orientar o público.
"Tinha gente sim. Além dos quatro guardas, havia outros 11 da Polícia Florestal", afirmou Antônio de Paula Eduardo, diretor do bosque. Segundo ele, todos estavam fardados.
A Guarda Municipal, porém, disse que havia três guardas. Nos finais de semana, são de dois a três homens designados para o bosque. No ano passado, o número variava de sete a dez.
Questionado pela Folha sobre as cenas descritas acima, Eduardo respondeu: "As pessoas é que são mal-educadas. Como o lugar é público, recebemos pessoas indesejáveis", completou.

Cartaz
A educação, no entanto, não foi levada em conta pela direção do zoológico ao escolher os dizeres de um cartaz cujas cópias foram espalhadas por todo o bosque no domingo passado: "Você está visitando um zoológico, não um circo: apenas observe os animais sem perturbá-los, respeitando seus hábitos comuns".
O recado, no mínimo grosseiro, causou reclamação por parte do público, segundo a própria direção do bosque -sem contar o preconceito contra profissionais que trabalham em circo.
Num primeiro momento, Eduardo negou que o cartaz existisse. Depois que a Folha informou que tinha uma foto da mensagem, ele recuou. "Mas não foi a gente que colocou o cartaz", afirmou.
Só que Antônio Carlos Girotto, encarregado do bosque, desmentiu seu chefe. "Foi a diretoria que colocou [o cartaz], há duas semanas, para conter os visitantes. Colocamos a placa porque o pessoal já chega no bosque gritando, bagunçando e estressando os animais", disse o encarregado.
Na quarta-feira de manhã, porém, a Folha voltou ao local e os cartazes haviam sido retirados.

Estresse
A AVA (Associação Vida Animal) de Ribeirão destacou o problema. Segundo Paulo César Lins Ferraz, diretor da entidade, os animais são visualmente estressados. Para ele, os macacos são animais inteligentes, que precisariam ter equipamentos -como gangorras, por exemplo- para eles se manterem em atividade. "Eles não podem ficar parados."
O chefe da divisão de educação ambiental do bosque, Vinícius Biaggi Pecci, discorda. "Aqui tem até reprodução em cativeiro. Isso prova que eles estão adaptados."
Eduardo também defende o tratamento dado aos animais. Mas ele destaca, porém, que o bosque tem vários pequenos problemas. O pior, segundo ele, é que 20% dos 52 funcionários do Fábio Barreto são alcoólatras.
De acordo com ele, esses servidores deveriam ser demitidos porque a maioria está na manutenção do bosque e no tratamento dos animais.

Equívoco
Para a advogada do Sindicato dos Servidores Municipais de Ribeirão Preto, Regina Márcia Fernandes, o raciocínio demonstrado por Eduardo está equivocado. "Essas pessoas têm uma doença e precisam ser tratadas."
Segundo ela, o sindicato fez uma pesquisa com 316 chefes de setores da prefeitura e constatou que 35% deles dizem que têm funcionários alcoólatras. Regina afirmou também que há 160 sindicâncias contra servidores que, comprovadamente, abusam do álcool. No bosque, há dez casos.


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