São Paulo, domingo, 26 de setembro de 2010

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TERETETÉ

Felicidade não foi embora

por TETÉ RIBEIRO

O eterno diferentão Todd Solondz fala sobre seu novo filme, "A Vida durante a Guerra", que estreia em 12 de novembro e é continuação de "Felicidade", seu maior sucesso


Por que fazer uma continuação de "Felicidade"? É sempre um grande mistério saber por que fazemos o que fazemos. Quando fiz "Felicidade", achei que nunca mais escreveria nada para aquelas personagens. Mas, dez anos depois, um dia me peguei escrevendo a primeira cena do novo filme, sem nenhum motivo. Daí, gostei, decidi ir em frente. Lembrei-me de "O Poderoso Chefão 2", que é tão bom, e perdi o preconceito contra fazer uma continuação.

O elenco é todo diferente. O que norteou essa decisão? Queria novas nuances, novas interpretações. Sou muito grato ao elenco de "Felicidade", são grandes atores, mas acho que, com pessoas diferentes, a experiência de voltar àqueles personagens seria infinitamente mais interessante para mim.

Paul Reubens, o intérprete de Pee-Wee Herman, está no filme. Assim como as personagens, ele tem uma história pessoal bem trágica (o ator foi preso em 1991 por exposição indecente em uma sala de filmes pornô). O fato ajudou na sua escolha? Nem todo o mundo conhece o potencial dramático dele. É talentosíssimo. E acredito que as pessoas saibam dos problemas que ele enfrentou, o que traz mais bagagem para o filme. Acho bom, em alguns casos, que a história pessoal ou a imagem pública do ator se misture com a do personagem.

Foi pensando nisso que escolheu Michael Kenneth Williams para o papel que foi de Phillip Seymour Hoffman em "Felicidade"? Não, essa escolha foi casual. Eu não sabia que ele tinha interpretado o personagem Omar, da série "The Wire", nem sabia que o presidente Obama tinha dito que o Omar era o personagem preferido dele na TV (a série "The Wire", da HBO americana, ainda não foi exibida na TV brasileira).

Os personagens desse filme carregam um peso muito grande de coisas que fizeram no passado ou que aconteceram na vida deles. Acredita que o passado nos define? Quase sempre, mas com grandes variações entre as pessoas. No caso desses personagens, alguns tentaram se livrar do passado, mas o passado foi mais marcante que o presente. A família central se muda para a Flórida, aonde, tradicionalmente, as pessoas vão quando querem inventar uma nova vida. Foi para lá que O.J. Simpson foi depois de convencer o júri de que não era culpado pela morte da mulher. Esse é um dos temas fundamentais dessa história, afinal, o passado é presente, não temos como fugir dele. Mas, em outras histórias, pode ser que não. Não tenho certeza de como responderia a essa pergunta em relação à vida real.

Qual seu próximo projeto? Começo a filmar "Dark Horse" daqui a três dias (a entrevista foi feita no dia 8 de outubro, às 7h). Preciso me concentrar na nova história. Estou muito excitado, o elenco está incrível, tem Mia Farrow, Christopher Walken, Selma Blair.

Você demorou quatro anos para conseguir financiar "A Vida durante a Guerra", mas vai filmar "Dark Horse" apenas um ano depois de terminar o anterior. Qual o segredo? Sorte, acho. Tudo é difícil, especialmente quando parece fácil. Mas o novo filme não tem tantos assuntos controversos, não tem pedofilia, não tem crimes. Foi mais fácil conseguir financiamento. Não sei como não pensei nisso antes (risos).

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