São Paulo, domingo, 26 de setembro de 2010

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MODA

O verão de Saint Laurent

por VIVIAN WHITEMAN, de Paris

Legado do criador francês, morto em 2008, é a maior influência da temporada primavera-verão 2011 nos EUA e na Europa

Algumas ausências são tão imensas que se transformam em presença. A morte de Yves Saint Laurent, em 2008, foi para o mundo da moda como a perda de um pai. Grande gênio da imagem, foi o responsável pela consolidação e pela ampliação da revolução do vestuário contemporâneo iniciada pela pioneira Coco Chanel. Quando jovem, trabalhou com Christian Dior, mestre que superou em diversos sentidos.
Saint Laurent se aposentou em 2002, mas a certeza de que ele jamais voltaria a criar veio somente quando sua capacidade para reproduzir a beleza foi fatalmente interrompida pelo câncer. E como preencher um buraco dessas dimensões?
Coincidência ou não, a moda viveu nos últimos anos um período de luto. Crise econômica, coleções sisudas, pragmatismo, pouca emoção. Na temporada primavera-verão 2011 do hemisfério norte, que rolou entre setembro e outubro, surgiu um certo movimento de recuperação da utopia fashion, da porção sonho que existe nas roupas.
E não é de se estranhar que esse revival tenha buscado referências bastante explícitas no legado de Saint Laurent. Clássicos do repertório do estilista, como suas coleções cigana, africana e chinesa, seus ternos e smokings, sua linha saharienne (estilo safári), suas inspirações marroquinas e até os blocos de cores intensas do final de sua carreira apareceram não só na coleção da grife YSL, pilotada atualmente por Stefano Pilati, como também em absolutamente todas as principais coleções da temporada.
O mais impressionante é notar que, do baú de referências deixado por Saint Laurent, grande tesouro da moda, saem de discretas pérolas do minimalismo às joias mais raras do exotismo. Do bege mais arenoso aos roxos, rosas e vermelhos mais saborosos. Além disso, um inventário de plantas, bichos e gente de todos os cantos.
A moda velou, enterrou e, agora, rezou uma missa de gala ao último de seus patriarcas. Outros virão, profetiza a roda-viva fashion. Será?

splashcolorido Um azul do Marrocos, um laranja dos trópicos, um rosa ultrapop ou um vermelho russo, não importa. As cores sólidas, lisas e fortes fazem vibrar o guarda-roupa de verão. Inspire-se em Saint Laurent que, apesar de suas coleções em preto, branco e neutros, não tinha medo de usar tons intensos quando resolvia investir em uma cartela "arco-íris" do tipo capaz de ofuscar o próprio sol

fauna & flora Uma das obsessões temáticas de Saint Laurent foi a referência às plantas e aos bichos de determinadas regiões, imortalizada em estampas e formas. O verão 2011 embarca nessa onda "bicho do mato" e mistura frutas, borboletas, macacos e muitas penas e plumas para criar looks saborosos e animalescos

magia cigana As ciganas criadas por YSL são consideradas imbatíveis pelos fashionistas. E, nessa temporada, o estilo "gitano" voltou para esvoaçar as saias das moças nos mais diferentes estilos. Tem cigana setentinha, hiponga, romântica e camponesa, todas elas prontas para arrasar nas estradas da vida

neosafári Quem vai se aventurar em terreno selvagem precisa de um traje adequado. YSL, visionário que só ele, criou sua coleção safári lá nos idos de 1968, que incluía o famoso casaco saharienne. Num cruzamento do militar com os tons neutros e silhuetas minimalistas da temporada passada, que ainda apareceram nas passarela, os estilistas chegaram novamente ao território das exploradoras chiques, no qual imperam o cáqui e os tons terrosos

ternos eternos Chanel começou a brincadeira, e YSL fez do smoking e dos ternos presenças marcantes no guarda-roupa feminino. Para a próxima estação, os designers desconstruíram os blazers, liberaram os ombros e criaram decotes profundos para dar a essas peças com cara de inverno uma brisinha de verão

popshow Em 1966, YSL criou uma coleção inspirada na pop art de Andy Warhol que deixou o mundo de queixo caído. Desde então, o pop só aumentou sua influência sobre a moda, tornando-se marca registrada de algumas grifes, como a de Jean-Charles de Castelbajac. Do Gato Felix a David Bowie, jogue-se na memorabília pop para ferver no verão

rolê exótico As coleções étnicas de YSL são consideradas obras de arte históricas: suas peças inspiradas na China, na Rússia e na África já circularam por museus de todo o mundo. Entre nessa vibe, saia de sua área de conforto e dê a volta ao mundo em 80, 800, 8 mil looks maravilhosos e ultracoloridos

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