São Paulo, terça-feira, 28 de junho de 2005 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
educação Comum até a 4ª série, polivalência prevê que um único professor ministre várias matérias a uma mesma classe. Entenda o que leva as escolas a estender ou não esse método a outras séries do ensino fundamental Um por todos
Carolina Cassiano
Às 7h, a professora Mirami Martins Maia, da Escola Municipal
João Pinheiro, inicia a aula de matemática. Cerca de uma hora e
meia depois, interrompe o curso e avisa aos alunos que começará o estudo de português. Passada mais uma hora, chega o
momento das aulas de geografia, história ou ciências. Tudo seria nos
moldes tradicionais se ela fosse uma professora de 1ª a 4ª séries do ensino fundamental. Mas ela não é: Mirami leciona cinco matérias em uma
classe de 5ª série. Por formação, é especialista em matemática, mas já se
acostumou a explicar como se faz uma redação.
Diante dessa crítica, a Escola Vera Cruz apresenta uma estrutura montada para que o professor seja preparado para se tornar polivalente. Antes de virar titular, ele exerce a função de auxiliar de classe: acompanha os trabalhos de perto, estuda com os outros professores, mas não dá aulas. Essa estratégia tenta prepará-lo gradualmente para as aulas. A rede pública, no entanto, não funciona nesse ritmo. Nela, o professor passa por um concurso e, conforme a sua classificação, deve escolher as opções de escola à disposição. No dia da escolha, em fevereiro deste ano, a professora de ciências Elisabete Hulgado escolheu a Escola Municipal João Pinheiro, sem saber que a entidade adotava a polivalência. "Quando soube, nem dormi de tanta preocupação com a responsabilidade de assumir isso", conta Elisabete. Ela só ficou mais tranqüila quando soube que a escola organiza reuniões semanais com todos os professores polivalentes, para que eles aprendam o que devem ensinar em cada classe. "Estou aqui há poucos meses e já percebi que muitos conteúdos eu nem aprendi na escola." O foco não é ensinar as minúcias da matemática ou das ciências e sim observar o aluno de perto e ensiná-lo a aprender para que ele chegue às séries mais avançadas maduro e capaz de administrar sua busca autônoma pelo conhecimento. Outras instituições preferem o contrário: em vez de retardar o sistema com especialistas, o adiantam. É o caso do Colégio Objetivo, que a partir da 3ª série do ensino fundamental já tem um professor para português, história e geografia e outro para matemática e ciências, além dos especialistas em artes, música, educação física, inglês e informática. Na 4ª série, o aluno tem sete professores, na 5ª, nove. "Tudo para facilitar a transição", conta Sônia Bercito, coordenadora de 5ª a 8ª séries do Objetivo. O Colégio Dante Alighieri também fez uma tentativa similar. Por lá, os especialistas foram introduzidos na 4ª série, mas o sistema foi abandonado há dez anos. "Descobrimos que só antecipávamos o sofrimento dos alunos, transferindo-o para a passagem da 3ª para a 4ª série", diz Vânia Barone Monteiro, coordenadora pedagógica de 2ª a 4ª séries. "Eles não estão maduros, mas é o sistema, eles se adaptam." Na prática, o que se mostra mais eficiente para o aluno: que a polivalência seja estendida ou que haja muitos especialistas desde cedo? Segundo Nilson José Machado, da Faculdade de Educação da USP, o que importa é que a escola consiga transformar conteúdo em conhecimento aplicável à vida dos alunos. Nesse sentido, a boa escola não é necessariamente aquela que adota um ou outro método, mas aquela que tem professores hábeis o bastante para transitar por vários conteúdos, inclusive no ensino de sua especialidade. Simples assim. Texto Anterior: Experimentar - Gilberto Dimenstein: Médico faz diagnósti co da política Próximo Texto: Leituras cruzadas: O feio na parede Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |