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#PRONTOFALEI
LULI RADFAHRER - folha@luli.com.br
Não tome Ecstasy, tome Viagra
SIM, EU SEI. O título deste artigo é polêmico e já peço desculpas de antemão. Não assumo que todos os leitores sejam homens nem que sofram
de algum problema de disfunção erétil. Tampouco me interessa se consomem algum tipo de aditivo em raves. Não
sou médico nem frequento a
cena noturna, o que me desqualifica para qualquer julgamento. O que me interessa é a
inversão de valores na percepção dessas duas pílulas e
o que essa situação tem a dizer sobre muito das novidades que testemunhamos, sejam digitais ou não.
Uma análise técnica, isenta e ponderada explicaria que
metanfetaminas podem levar
seus usuários a convulsões,
desidratação, paranoia, delírios e outras disfunções. E
que, a médio prazo, seu uso
regular pode provocar sobrecarga do fígado e dos rins, depressão e afins. Sem contar
que sua distribuição é irregular, não há garantia de procedência ou composição e, vale
lembrar, a comercialização é
ilegal e pode dar cadeia.
Já os remédios que combatem a disfunção erétil são pequenas maravilhas químicas
que devolveram a autoestima
a muitos casais. Seus fabricantes são grandes laboratórios, que garantem e se responsabilizam pela integridade de cada comprimido, vendido em qualquer farmácia,
sem receita, à luz do dia.
Mesmo assim, boa parte
delas é consumida em segredo. Para muitos, usá-las é
quase um atestado de impotência e incompetência sexual (às vezes me pergunto se
um dia entraremos no século
21). Tanto é que, mesmo estando entre os medicamentos
mais vendidos, entraram para o folclore popular na forma
de piadas e insultos.
Vivemos em uma época pitoresca, em que um sujeito
pode até confessar para a namorada que tomou escondido um "e" que o romance tem
chances de continuar. Mas ai
dele se assumir que tomou
um "v". Em uma sociedade
cada vez mais hedonista, estressada e impotente, obcecada com performance, o óbvio deveria ser o contrário.
Mas não somos óbvios.
Muito se fala em estar à
frente de seu tempo, mas isso
nem sempre é viável. Às vezes, por mais que sejam eficientes e sensatas, algumas
inovações enfrentam barreiras sociais tão intensas que
acabam por se tornar respostas para perguntas que muitos têm medo, vergonha, restrições sociais ou de educação para fazê-las.
E aí tudo continua como
antes.
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