São Paulo, quarta-feira, 29 de setembro de 2010

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#PRONTOFALEI

LULI RADFAHRER - folha@luli.com.br

Não tome Ecstasy, tome Viagra

SIM, EU SEI. O título deste artigo é polêmico e já peço desculpas de antemão. Não assumo que todos os leitores sejam homens nem que sofram de algum problema de disfunção erétil. Tampouco me interessa se consomem algum tipo de aditivo em raves. Não sou médico nem frequento a cena noturna, o que me desqualifica para qualquer julgamento. O que me interessa é a inversão de valores na percepção dessas duas pílulas e o que essa situação tem a dizer sobre muito das novidades que testemunhamos, sejam digitais ou não.
Uma análise técnica, isenta e ponderada explicaria que metanfetaminas podem levar seus usuários a convulsões, desidratação, paranoia, delírios e outras disfunções. E que, a médio prazo, seu uso regular pode provocar sobrecarga do fígado e dos rins, depressão e afins. Sem contar que sua distribuição é irregular, não há garantia de procedência ou composição e, vale lembrar, a comercialização é ilegal e pode dar cadeia.
Já os remédios que combatem a disfunção erétil são pequenas maravilhas químicas que devolveram a autoestima a muitos casais. Seus fabricantes são grandes laboratórios, que garantem e se responsabilizam pela integridade de cada comprimido, vendido em qualquer farmácia, sem receita, à luz do dia.
Mesmo assim, boa parte delas é consumida em segredo. Para muitos, usá-las é quase um atestado de impotência e incompetência sexual (às vezes me pergunto se um dia entraremos no século 21). Tanto é que, mesmo estando entre os medicamentos mais vendidos, entraram para o folclore popular na forma de piadas e insultos.
Vivemos em uma época pitoresca, em que um sujeito pode até confessar para a namorada que tomou escondido um "e" que o romance tem chances de continuar. Mas ai dele se assumir que tomou um "v". Em uma sociedade cada vez mais hedonista, estressada e impotente, obcecada com performance, o óbvio deveria ser o contrário.
Mas não somos óbvios.
Muito se fala em estar à frente de seu tempo, mas isso nem sempre é viável. Às vezes, por mais que sejam eficientes e sensatas, algumas inovações enfrentam barreiras sociais tão intensas que acabam por se tornar respostas para perguntas que muitos têm medo, vergonha, restrições sociais ou de educação para fazê-las.
E aí tudo continua como antes.


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