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Em Varanasi, hinduístas lavam pecados no Ganges

Cidade é um dos lugares de habitação contínua mais antigos do mundo

Além do hinduísmo, o local é considerado sagrado também pelos fiéis adeptos do budismo e do jainismo

DA ENVIADA À ÍNDIA

Se o hinduísmo permeia a paisagem indiana, é em Varanasi que a religião explode em manifestações diárias de devoção. A cidade remonta ao segundo milênio antes de Cristo, um dos locais de habitação contínua mais antigos do mundo.

Varanasi é a localidade mais sagrada do hinduísmo, e o rio Ganges é tido como a representação da deusa Ganga, que lava os pecados e torna mais próxima a liberação do ciclo de vida e morte.

O Ganges é sagrado também para o budismo e o jainismo -e está entre os rios mais poluídos do mundo, ficando entre os cinco primeiros em 2007.

Com 400 milhões de habitantes em sua bacia (sim, mais que o dobro da população brasileira), o Ganges é tomado por dejetos industriais, esgoto e corpos parcialmente queimados nos rituais.

Os banhos de milhares de fiéis também não ajuda, e o costume de beber da água do rio sagrado, que permanece inalterado, causa doenças.

Ao assistir ao ritual do anoitecer, o Ganga Aarti, prepare-se para enfrentar a multidão. À beira do rio, os pandits brâmanes (sacerdotes) fazem um intrincado rito com apetrechos que representam elementos da natureza, enquanto velas são colocadas no rio como oferendas.

Do "ghat" (como são chamados os pontos de acesso ao rio), ruelas estreitas cheias de devotos e vendedores levam ao templo hindu Kashi Vishwanath, famoso por sua cúpula recoberta em ouro.

O templo porém, só pode ser visitado por hindus -e lá estão eles, no começo da manhã, milhares, em fila, com os cabelos ainda molhados do banho no Ganges.

O guia leva a reportagem a uma loja de cuja janela é possível ter um leve vislumbre do templo, isso depois de adentrar um pequeno altar do proprietário e subir em uma escadinha. Em troca, o visitante acaba tendo de dar uma olhada na loja -e constrangido a comprar algo.

Mas é o ritual do amanhecer no Ganges que realmente arrebata o turista, pela aura mística do nascer de um sol estranhamente avermelhado e pela demonstração de fé em massa que impressiona crentes e descrentes.

Ainda no escuro, alguns fiéis raspam o cabelo para marcar sua primeira peregrinação ao Ganges. Multidões seguem pelas ruas com mudas de roupas em sacolas. Iogues buscam um espaço mais amplo, enquanto a multidão vai enchendo cada vez mais os "ghats" principais, colorindo os degraus.

E todos entram na água quente com alegria. O barco segue pelo rio revelando corpos sendo cremados e mais "ghats" completamente tomados de gente em seu banho ritual diário.

Ao lado, quase no meio do rio, um homem boia apenas com o nariz fora d'água, em meio a velas e embarcações.

Para a multidão, não se trata de um banho nas águas sujas do Ganges, mas sim de um mergulho na deusa Ganga, no momento em que sua energia está no ápice.

A repórter não resistiu e lavou o rosto com a água morna. Até o presente momento, nenhuma reação adversa foi registrada -só satisfação de participar daquele momento de comunhão em massa.

(MARINA DELLA VALLE)

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