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São Paulo, segunda-feira, 01 de dezembro de 2003

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FÊNIX

Colonização portuguesa torna atraente país que foi cenário de campo de batalha em 1999 e é independente há 18 meses

Cultura aproxima Timor Leste do brasileiro

Ricardo Bonalume Neto/Folha Imagem
Timor Leste tem belas praias a cerca de 20 minutos de carro da região central de Dili; sol pode ser insuportável em certas horas do dia


RICARDO BONALUME NETO
ENVIADO ESPECIAL A TIMOR LESTE

Em 1999 o país era um campo de batalha. Com edifícios queimados e cadáveres como testemunha, pisava-se em cápsulas disparadas de munição de fuzil. Veículos blindados protegiam a frente de um hotel incongruamente chamado Turismo e tornado quartel-general.
Quatro anos depois, o hotel continua lá, na avenida litorânea de Dili, capital de Timor Leste, o mais novo país do mundo, recriado no século 21 depois de ter ficado independente apenas por uma semana em 1975. As paredes brancas enegrecidas pelo incêndio do hotel Turismo estão agora pintadas de cor-de-rosa.
Dili é a pequena capital de um pequeno país. Tem cerca de 145 mil habitantes. É um porto protegido do mar aberto por uma barreira de corais, criando uma enseada de águas sossegadas.
Não há grandes edifícios -o maior é o prédio do governo, que antes fora usado pelo governo provincial do invasor indonésio. Ao lado, um novo centro cultural pintado de vermelho vivo ocupa as instalações que antes eram do quartel de tropas coloniais portuguesas e depois foi usado na mesma função pelos indonésios.
Casas quase sempre térreas se espalham ao longo do mar até atingir as montanhas que rodeiam a cidade. Muitas lembram casas portuguesas.
Em uma ponta está a estátua negra de um Cristo redentor de braços abertos, obra dos indonésios para tentar conquistar os corações e mentes dos católicos timorenses. O problema é que, ao mesmo tempo que tentavam isso, os militares indonésios torturavam e matavam os corpos que abrigavam os corações e as mentes.
Mesmo em 1975, só 20% dos timorenses falavam português. Apesar de liliputiano, o país tem 16 línguas. A maioria da população entende o tétum, língua nativa influenciada pelo português, principalmente quanto ao vocabulário técnico ou de objetos que não existiam ali antes da chegada dos europeus. Hoje o português é falado por 5% dos timorenses, especialmente a população urbana de mais de 40 anos, embora muitos entendam um pouco.
A brutal ocupação indonésia incluiu forçar os timorenses a aprender a língua oficial desse país, o bahassa-indonésio, uma variante do malaio. Entre 40% a 50% dos timorenses falam bahassa, especialmente os jovens.
Curiosamente, os indonésios não apagaram os vestígios materiais da presença portuguesa. Um monumento aos 500 anos da morte do infante dom Henrique, feito em 1960, permaneceu intacto até hoje (embora tenha sido pichado recentemente...).
Em 1999, mesmo as ruas mantinham nomes ligados ao salazarismo, congeladas no tempo em 1974. Agora ruas e avenidas passam a ter nomes de heróis da resistência timorense, e mesmo de um brasileiro, Sérgio Vieira de Mello, morto neste ano no Iraque, que governou o país em nome da ONU durante o período de transição para a independência.
Timor tem belas praias a cerca de 20 minutos de carro do centro de Dili. Sol, coqueiros, areia branca não faltam. Mas é preciso tomar cuidado com águas-vivas.
O calor pode ser insuportável em certas horas do dia. Felizmente os hotéis investiram em ar-condicionado. O choque térmico é considerável. Mesmo autoridades do governo não usam ternos e gravatas no dia-a-dia.
Mais do que paisagens ou monumentos, o que atrai em Timor Leste é sua população, sua cultura e história comuns a de outros povos de colonização portuguesa.
Há um distanciamento natural, e compreensível, dada a história recente, do estrangeiro, chamado de "malai". A barreira pode ser quebrada ao se mostrar interesse pela cultura local. Quem se esforça por falar tétum é recebido com sorrisos. E começar não é difícil.
Bom-dia é "bondia"; boa noite é "bonoite"; por favor é "porfavor" ou "favor ida"; muito obrigado é "obrigadu barak".

Ricardo Bonalume Neto viajou a convite do Ministério da Defesa, do Centro de Comunicação Social do Exército e a bordo de avião da Força Aérea Brasileira.


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