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FÊNIX
Antes do diplomata Sérgio Vieira de Mello, Antônio de Albuquerque Coelho governou território timorense em 1722
Dois brasileiros já comandaram ilha entre Oceania e Ásia
DO ENVIADO ESPECIAL A TIMOR LESTE
Quem vê Timor Leste do avião
na época quente e seca do ano, até
o começo de novembro, com uma
vegetação ressecada e rala, nem
imagina que foi por causa de uma
árvore que europeus foram parar
ali. Os primeiros portugueses chegaram em 1514, atraídos pelo sândalo, uma madeira odorífera cujo
perfume era apreciado na China.
Por isso durante centenas de
anos as ligações entre Timor e outro entreposto português na Ásia,
Macau, na costa sul da China, foram estreitas, mais até do que
com a capital do império luso no
Oriente, Goa, na Índia.
A distância de Timor dos centros de poder tornou a ilha o paraíso de aventureiros e soldados
da fortuna. A confusão ficou ainda maior com os holandeses se estabelecendo na parte oeste da ilha.
Só em 1702 que toma posse o
primeiro governador português a
administrar o país de fato, Antônio Coelho Guerreiro. Os chefes
de governo viviam em disputas
com as famílias poderosas.
Um dos primeiros dessa ilha localizada na fronteira da Ásia com
a Oceania foi um brasileiro: Antônio de Albuquerque Coelho, em
1722, que tinha nas veias "o sangue da Europa, da África e da
América", segundo o historiador
britânico Charles Ralph Boxer.
Seu pai era um fidalgo português,
Antônio de Albuquerque de Coelho de Carvalho, que foi governador de Minas Gerais e do Maranhão; sua mãe, Angela de Barros,
era uma mulata de Pernambuco.
Timor Leste voltou a ser governado por um brasileiro em 1999,
quando o diplomata Sérgio Vieira
de Mello foi nomeado administrador da ONU para o território.
Disputas com a parte oriental da
ilha eram comuns, até que em
1851 foi firmado um acordo delimitando a fronteira entre o Timor
português (leste) e o holandês
(oeste). A terra era uma colônia
quase que esquecida por Portugal, mas que podia aparecer no
noticiário de forma alarmante. De
1941 a 1945 os japoneses ocuparam Timor, matando milhares de
pessoas. Os timorenses permaneciam fiéis a Portugal.
A moderna crise de Timor começou faz quase 30 anos.
Com a Revolução dos Cravos
em Portugal, em 1974, inicia-se
um apressado e conturbado processo de descolonização, notadamente nas colônias africanas que
sofriam uma longa guerra de
guerrilha. Foi a senha para começar uma disputa de poder em Timor Leste por três partidos: a
UDT (União Democrática Timorense), mais conservadora; a Fretilin (Frente Revolucionária do
Timor Leste Independente), de
inspiração marxista e que defendia uma independência imediata;
e a Apodeti (Associação Popular
Democrática de Timor), que favorecia a integração na Indonésia, o
país que tinha sido criado a partir
das colônias holandesas depois da
Segunda Guerra.
A Fretilin proclamou a independência em 28 de novembro de
1975. Usando como pretexto a
guerra civil entre os partidos, a Indonésia invade e toma o território
em dezembro.
A ocupação de quase um quarto
de século foi sangrenta. ONGs internacionais da área de direitos
humanos estimam que cerca de
200 mil pessoas tenham sido mortas pelos indonésios.
O auge da indignação internacional só aconteceria em 1991,
quando militares indonésios abriram fogo contra uma multidão de
timorenses durante um funeral
no cemitério de Santa Cruz. Havia
cinegrafistas presentes, e o massacre de dezenas de timorenses foi
filmado e mostrado para o resto
do mundo.
Em maio de 1999 um acordo foi
assinado entre Portugal, Indonésia, grupos timorenses e a ONU
para a realização de um referendo
para decidir o futuro político do
território. A independência teve
78,5% dos votos, mas o país passou a ser vítima de milícias pró-Indonésia, que causaram mortes,
saques e incêndios generalizados.
Uma intervenção internacional
restaura a ordem e, depois de um
período de governo da ONU, a
República Democrática de Timor
Leste torna-se o mais novo país
independente do mundo, em 20
de maio de 2002.
(RICARDO BONALUME NETO)
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