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São Paulo, segunda-feira, 01 de dezembro de 2003

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FÊNIX

Antes do diplomata Sérgio Vieira de Mello, Antônio de Albuquerque Coelho governou território timorense em 1722

Dois brasileiros já comandaram ilha entre Oceania e Ásia

DO ENVIADO ESPECIAL A TIMOR LESTE

Quem vê Timor Leste do avião na época quente e seca do ano, até o começo de novembro, com uma vegetação ressecada e rala, nem imagina que foi por causa de uma árvore que europeus foram parar ali. Os primeiros portugueses chegaram em 1514, atraídos pelo sândalo, uma madeira odorífera cujo perfume era apreciado na China.
Por isso durante centenas de anos as ligações entre Timor e outro entreposto português na Ásia, Macau, na costa sul da China, foram estreitas, mais até do que com a capital do império luso no Oriente, Goa, na Índia.
A distância de Timor dos centros de poder tornou a ilha o paraíso de aventureiros e soldados da fortuna. A confusão ficou ainda maior com os holandeses se estabelecendo na parte oeste da ilha.
Só em 1702 que toma posse o primeiro governador português a administrar o país de fato, Antônio Coelho Guerreiro. Os chefes de governo viviam em disputas com as famílias poderosas.
Um dos primeiros dessa ilha localizada na fronteira da Ásia com a Oceania foi um brasileiro: Antônio de Albuquerque Coelho, em 1722, que tinha nas veias "o sangue da Europa, da África e da América", segundo o historiador britânico Charles Ralph Boxer. Seu pai era um fidalgo português, Antônio de Albuquerque de Coelho de Carvalho, que foi governador de Minas Gerais e do Maranhão; sua mãe, Angela de Barros, era uma mulata de Pernambuco.
Timor Leste voltou a ser governado por um brasileiro em 1999, quando o diplomata Sérgio Vieira de Mello foi nomeado administrador da ONU para o território.
Disputas com a parte oriental da ilha eram comuns, até que em 1851 foi firmado um acordo delimitando a fronteira entre o Timor português (leste) e o holandês (oeste). A terra era uma colônia quase que esquecida por Portugal, mas que podia aparecer no noticiário de forma alarmante. De 1941 a 1945 os japoneses ocuparam Timor, matando milhares de pessoas. Os timorenses permaneciam fiéis a Portugal.
A moderna crise de Timor começou faz quase 30 anos.
Com a Revolução dos Cravos em Portugal, em 1974, inicia-se um apressado e conturbado processo de descolonização, notadamente nas colônias africanas que sofriam uma longa guerra de guerrilha. Foi a senha para começar uma disputa de poder em Timor Leste por três partidos: a UDT (União Democrática Timorense), mais conservadora; a Fretilin (Frente Revolucionária do Timor Leste Independente), de inspiração marxista e que defendia uma independência imediata; e a Apodeti (Associação Popular Democrática de Timor), que favorecia a integração na Indonésia, o país que tinha sido criado a partir das colônias holandesas depois da Segunda Guerra.
A Fretilin proclamou a independência em 28 de novembro de 1975. Usando como pretexto a guerra civil entre os partidos, a Indonésia invade e toma o território em dezembro.
A ocupação de quase um quarto de século foi sangrenta. ONGs internacionais da área de direitos humanos estimam que cerca de 200 mil pessoas tenham sido mortas pelos indonésios.
O auge da indignação internacional só aconteceria em 1991, quando militares indonésios abriram fogo contra uma multidão de timorenses durante um funeral no cemitério de Santa Cruz. Havia cinegrafistas presentes, e o massacre de dezenas de timorenses foi filmado e mostrado para o resto do mundo.
Em maio de 1999 um acordo foi assinado entre Portugal, Indonésia, grupos timorenses e a ONU para a realização de um referendo para decidir o futuro político do território. A independência teve 78,5% dos votos, mas o país passou a ser vítima de milícias pró-Indonésia, que causaram mortes, saques e incêndios generalizados.
Uma intervenção internacional restaura a ordem e, depois de um período de governo da ONU, a República Democrática de Timor Leste torna-se o mais novo país independente do mundo, em 20 de maio de 2002.
(RICARDO BONALUME NETO)



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