ENVIADO ESPECIAL À GRÉCIA

Não é fácil gerenciar o entretenimento de um cruzeiro.
Que o diga o brasileiro Leo Papa, que tem essa função no Splendour of the Seas. Horas após coletiva engravatada com a imprensa, lá estava Papa de marinheiro, com um microfone. Na boate, no mesmo balcão que um operário, um caubói, um índio, um motoqueiro e um guarda.
Sim, Village People. Como o público do navio era composto de dezenas de nacionalidades, os avisos vinham pelos alto-falantes em seis idiomas. E falava-se a linguagem dos clichês. E Leo Papa dançava em cima do balcão.
Ele convidava o público a apontar o dedo para o teto e para o chão e a pronunciar o nome do inspirador da coreografia, John Travolta.
Não é fácil gerenciar o entretenimento de um cruzeiro. A essa dificuldade é atribuída a programação que inclui um (competente, é verdade) cover dos Beatles, apresentações de teatro mais visuais que verbais (Harold Pinter em alto-mar? Esqueça) e aquele perpétuo "La Bamba", que rói os ouvidos em áreas como a da piscina.
Às 23h no quinto andar, no entanto, um pianista empolgado, receptivo a pedidos e sósia do ator Dustin Hoffman toca um repertório norte-americano que inclui as consagradas de Ella Fitzgerald, mas também vai além.
Cinco andares para cima, porém, não é fácil ser DJ da boate do cruzeiro. O público, além de multinacional, variava muito na idade. À meia-noite, os presentes têm de 20 a 85 anos, e é preciso animar os mais velhos sem deixar escoar os mais novos. Às 2h só restam os mais novos, mas isso não facilita as coisas.
Há barricadas mais consensuais, como a dos cansados de chavões como Tribalistas, Abba e... Village People.
Mas uma noite foi descoberto um interfone ao lado da pista e o ramal do DJ, e não houve consenso sobre o que pedir. Entre outras coisas, é por isso, explicava Leo Papa, em outra coletiva, dias após a noite marinheira, que não é fácil gerenciar o entretenimento de um cruzeiro.