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BALANÇA, MAS NÃO CAI
Hitler usurpou fama histórica de Olímpia
Uma das sete maravilhas antigas, estátua do deus ficava na cidade "redescoberta" pelo ditador alemão
DO ENVIADO ESPECIAL
Não fossem o museu e o sítio
arqueológico, Olímpia não seria grande coisa. Se muito uma
carismática cidadezinha do sul
da França, pelo estilo da sua desacelerada rua principal.
Mas há o museu e o sítio arqueológico. Além de livros que,
à venda na entrada desses lugares, fazem com que muitos turistas descubram o que se passou por ali e babem nas ruínas.
O local não abrigou apenas a
primeira Olimpíada, em 776
a.C. Foram mais de cem olimpíadas, até 393 d.C., quando o
imperador bizantino Teodósio
1º proibiu festas idólatras, e os
jogos foram abolidos. Em 426,
dando seqüência à antipatia familiar com Olímpia, Teodósio
2º queimou o templo de Zeus.
Nesse mesmo século, terremotos destruíram ainda mais o
santuário, que entrou em um
limbo histórico. No século 18,
houve escavações amadoras
sem resultado. No 19, profissionais fizeram investigações sistemáticas e tropeçaram em algumas coisas, mas o passado só
voltou mesmo à tona em meados do século seguinte -com
Hitler, porque o ditador queria
algo grandiloqüente para as
Olimpíadas de Berlim de 1936
e, por isso, escavou e "reativou"
Olímpia, para que a tocha saísse
de lá até a capital alemã.
As escavações seguem até
hoje, e anexo ao sítio arqueológico há um museu com as peças
ali encontradas, de quase dois
milênios antes de Cristo até o
período da dominação romana.
Uma seção abriga apenas os
artigos que, para contrariedade
de Teodósio 2º na tumba, foram resgatados do templo de
Zeus -como a estátua de Nike,
a deusa da vitória.
Antes do Cristo
Mais de dois milênios antes
de as novas sete maravilhas serem eleitas por internet e celular, entre 150 a.C. e 120 a.C. filósofos gregos fizeram a lista antiga, que inclui a estátua de
Zeus. Toda de ouro, marfim e
outros materiais preciosos, ficava, é claro, no templo de
Zeus. Pedaços de colunas do
templo permanecem lá.
A estátua foi construída pelo
escultor Fídias (nascido em
Atenas em 490 a.C. e morto em
Olímpia em 430 a.C.), com a
ajuda do pintor Panainos e do
também escultor Kolotes.
Fídias tinha um currículo
respeitável. Se fosse resumi-lo
hoje, em uma página de computador, bastaria escrever "esculturas no Partenon, na Acrópole, e estátua de Zeus".
A estátua foi posta no templo
após 438 a.C. Zeus estava sentado em um trono, e a obra, somado o pedestal, media 12,4
metros -tão grande, para o
templo de 20 metros de altura,
que Estrabón, historiador grego, disse que se o deus resolvesse se levantar passaria do teto.
O trono era feito de cobre,
ouro, ébano, marfim e pedras
preciosas e decorado com representações pintadas e em
baixo-relevo de temas da mitologia. As partes descobertas de
Zeus (pés, barriga e cabeça)
eram de marfim, e cabelos, barba, sandálias e túnica, de ouro.
"Diz-se que a perfeição da estátua era de tal envergadura
que, quando o artista pediu a
aprovação do deus, este a mostrou lançando um relâmpago
sobre o templo sem destruir
nada", narra o livro "Olímpia e
Jogos Olímpicos", à venda em
Olímpia por 15 (R$ 40) -em
inglês, espanhol ou grego.
A estátua ficou no templo até
395 d.C. Saiu de lá, portanto,
antes que o local fosse destruído. Mas, em Istambul, queimou em um incêndio em 475.
Teodósio 2º, morto 25 anos antes, não teve o prazer de comemorar a ocasião.
(TM)
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