São Paulo, quinta-feira, 03 de março de 2005

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JÓIA DA BOÊMIA

Além de contemplar construções antigas, o turista encontra sofisticação em lojas e restaurantes

Praça Starometské centraliza vida na face velha da capital

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM PRAGA

A cada hora cheia, diante do relógio astronômico, instaura-se um pequeno tumulto na Starometské Námestí (praça da Cidade Velha). Mesmo que esteja chovendo, os turistas se apinham para ver a "procissão" dos 12 apóstolos. As estátuas aparecem e somem diante dos olhos dos espectadores, que ficam ainda mais surpresos ao saber que o mecanismo que faz funcionar o relógio permanece o mesmo desde sua construção, em 1410, afora pequenos reparos.
A praça da Cidade Velha começou a existir no século 12, mas foi a partir de 1338, com a construção da Casa da Cidade Velha (que possui uma capela e uma torre de 70 metros, onde fica o relógio) e da igreja de Nossa Senhora Diante de Tyn, que ela se tornou o centro da cidade de Praga.
Do mesmo período da igreja de Tyn (que tinha sido a construção românica dos mercadores, transformou-se em igreja gótica no século 13 e, no século 17, teve seu interior reconstruído em estilo barroco) é a igreja de São Nicolas, onde, desde 1865, acontecem concertos de música erudita (o estilo arquitetônico atual, barroco, foi obtido em 1735).
Além de a acústica ser excelente, assistir a um concerto desviando o olhar dos músicos ora para as estátuas, ora para os vitrais da igreja é uma experiência gratificante: é como se uma ária de Bach ganhasse nova vida na voz da mezzo-soprano.
Mas as opções ali não se restringem às árias e às sinfonias na igreja: sempre há músicos se apresentando na praça e, além disso, nas ruelas adjacentes há muitas casas de show, principalmente de jazz. Há também dezenas de restaurantes ao redor, não só de comidas típicas mas também de comida internacional, lojas, cafés e hotéis de luxo. As lojas das famosas marionetes de Praga concentram-se na praça, onde, numa rua, produtos típicos são vendidos.
E, se a praça é o principal ponto da Cidade Velha, há muito para ser visto nos seus arredores. O portão de Pólvora, por exemplo, foi construído no século 11 (ganhou o estilo gótico em 1475) e era considerado o mais importante símbolo do reinado tcheco no período -era uma das 13 entradas da muralha que cercava Praga. Na rua Celetná, a mais antiga da cidade, passavam os cortejos reais. Há poucos metros dali, na Zelezna, fica o teatro Estadual, onde, no dia 29 de outubro de 1787, o compositor Wolfgag Amadeus Mozart esteve por ocasião da estréia mundial da ópera "Don Giovanni".
Percorridos os quarteirões da Cidade Velha (há realmente muitos edifícios antigos a serem vistos aqui), é inevitável atravessar o portão que leva à ponte São Carlos: erguido em 1400, é considerado o mais belo portão gótico de Praga e serviu de inspiração para o estilo gótico do portão de Pólvora (eles são praticamente iguais). Em sinal de advertência, as cabeças de 12 nobres decapitados ficaram expostas ali entre 1621 e 1631.
Depois de atravessá-lo, está-se na ponte São Carlos, que começou a ser construída em 1375 e ficou pronta no começo do século 15. Com 520 metros de comprimento, está suspensa sobre 16 pilares sobre os quais se encontram 30 estátuas e grupos de esculturas, totalizando 75 peças, a maioria barroca (1683-1714) e algumas neogóticas e clássicas.
A ponte, que recebeu o nome de seu fundador, o rei Carlos 4º, somente em 1879 (antes se chamava ponte Praguense), atravessa o rio Vltava e liga a Cidade Nova à Cidade Pequena. Difícil não ir e vir pela ponte diversas vezes, já que a cada passo tem-se um ângulo diferente da cidade e também porque ela virou uma galeria de arte a céu aberto, com pintores expondo suas obras e jovens músicos executando suas canções.
Por falar em céu aberto, em um dia dia ensolarado é imperdível fazer uma visita à ponte São Carlos no final da tarde: a luz incide diretamente nas esculturas, fazendo que as imagens dos santos se dupliquem, ora sobre o rio, ora sobre as pedras da ponte. Assim, mais uma vez se está diante do espetáculo de luz e sombra, tão comum nessa cidade de estátuas por todos os lados. (ANTONIO ARRUDA)


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