São Paulo, quinta-feira, 03 de março de 2005

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Castelo remete à época dos reis boêmios

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

É possível chegar ao castelo de Praga atravessando dois dos seus sete jardins, o Real e o de Hartig. E só a certeza de que há muito para ser visto adiante faz que não fiquemos mais tempo nas alamedas, entre as árvores, lendo algum livro, escrevendo, ouvindo música ou apenas contemplando as estátuas e os desenhos dos arbustos.
Do trajeto, avistam-se as torres da catedral São Vito, as mais altas e famosas de Praga, que vão ficando cada vez mais próximas até que o caminhante, de repente, surpreende-se com um portão grandioso, barroco, vigiado por dois guardas imóveis e por duas estátuas com homens matando a golpes de punhal e marreta dois outros: está-se diante do portão Matias, construído em 1614, que leva aos prédios do castelo.
Nem os guardas, que não se movem nenhum milímetro, escapam do assédio dos turistas: é quase impossível tirar uma foto em que apareça somente o vigilante, sem que alguém não esteja ao seu lado fazendo poses. A movimentação se justifica: o conjunto arquitetônico conhecido como castelo de Praga é um dos maiores do mundo. Começou a ser construído no século 9º -o modelo atual resulta de reformas que ocorreram ao longo dos reinados- e reúne edifícios belíssimos.
Além da catedral São Vito, há no castelo três palácios (o Real, o Real de Verão e o Lobkowicz), capelas, basílicas e igrejas, um convento, prédios que abrigam, entre outros, a galeria de arte, o salão de jogos e o pavilhão musical, quatro torres e a famosa rua de Ouro, construída em 1591 para abrigar os artesãos da corte (reza a lenda que os moradores, na verdade, eram alquimistas). O escritor Franz Kafka viveu por um tempo no número 22, uma pequena casa azul, na qual, como nas demais, funciona uma loja de livros.
Um dos principais símbolos da cidade, a São Vito é o exemplo máximo do estilo gótico em Praga. Começou como uma rotunda românica (926), virou uma basílica de três naves (1096) e, em 1344, ganhou as primeiras pedras que desenhariam o novo estilo arquitetônico, concluído em 1929. Diante da catedral, o turista tem a certeza de que este será o momento da viagem em que mais olhará para o alto, a ponto de o pescoço ficar dolorido: são tantos os detalhes das torres e das esculturas de santos nelas penduradas que o viajante não desgruda os olhos.
Dentro da São Vito, o olhar não saberá para onde ir: vitrais, santos, anjos, crucifixos, órgãos, túmulos e incensários. Diante do altar-mor, encontra-se a tumba real, mas os corpos dos reis ficam na cripta, onde estão os restos mortais de Carlos 4º, Venceslau 4º, Jorge de Prodebrady e Rodolfo 2º. Não dá para deixar de subir em uma das torres e, de lá, avistar os demais prédios do castelo.
A basílica de São Jorge também se destaca. Não só porque é o edifício românico mais bem preservado do castelo e até mesmo de Praga mas também porque, em seu interior, esculturas e quadros barrocos e neobarrocos estão espalhados por todos os cantos, ora iluminados pelo sol que atravessa os vitrais, ora sob a sombra, quase imperceptíveis.
Não é difícil permanecer horas ali. Talvez seja esse o motivo de um passeio de dia inteiro pelo castelo ser insuficiente. Não bastasse isso, a vista que se tem de Praga a partir de diversos pontos do castelo é privilegiada, o que, mais uma vez, convida o visitante a olhar. A vontade é retornar todos os dias ao castelo. O que de certo modo acontece: muitas vezes, caminhando pelas ruas de Praga, é possível avistar, lá longe, as torres da São Vito -o que basta para a memória nos levar de novo ao reino de belezas que é o castelo de Praga. (AA)


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