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Castelo remete à época dos reis boêmios
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
É possível chegar ao castelo de
Praga atravessando dois dos seus
sete jardins, o Real e o de Hartig. E
só a certeza de que há muito para
ser visto adiante faz que não fiquemos mais tempo nas alamedas, entre as árvores, lendo algum
livro, escrevendo, ouvindo música ou apenas contemplando as estátuas e os desenhos dos arbustos.
Do trajeto, avistam-se as torres
da catedral São Vito, as mais altas
e famosas de Praga, que vão ficando cada vez mais próximas até
que o caminhante, de repente,
surpreende-se com um portão
grandioso, barroco, vigiado por
dois guardas imóveis e por duas
estátuas com homens matando a
golpes de punhal e marreta dois
outros: está-se diante do portão
Matias, construído em 1614, que
leva aos prédios do castelo.
Nem os guardas, que não se movem nenhum milímetro, escapam
do assédio dos turistas: é quase
impossível tirar uma foto em que
apareça somente o vigilante, sem
que alguém não esteja ao seu lado
fazendo poses. A movimentação
se justifica: o conjunto arquitetônico conhecido como castelo de
Praga é um dos maiores do mundo. Começou a ser construído no
século 9º -o modelo atual resulta
de reformas que ocorreram ao
longo dos reinados- e reúne edifícios belíssimos.
Além da catedral São Vito, há
no castelo três palácios (o Real, o
Real de Verão e o Lobkowicz), capelas, basílicas e igrejas, um convento, prédios que abrigam, entre
outros, a galeria de arte, o salão de
jogos e o pavilhão musical, quatro
torres e a famosa rua de Ouro,
construída em 1591 para abrigar
os artesãos da corte (reza a lenda
que os moradores, na verdade,
eram alquimistas). O escritor
Franz Kafka viveu por um tempo
no número 22, uma pequena casa
azul, na qual, como nas demais,
funciona uma loja de livros.
Um dos principais símbolos da
cidade, a São Vito é o exemplo
máximo do estilo gótico em Praga. Começou como uma rotunda
românica (926), virou uma basílica de três naves (1096) e, em 1344,
ganhou as primeiras pedras que
desenhariam o novo estilo arquitetônico, concluído em 1929.
Diante da catedral, o turista tem a
certeza de que este será o momento da viagem em que mais olhará
para o alto, a ponto de o pescoço
ficar dolorido: são tantos os detalhes das torres e das esculturas de
santos nelas penduradas que o
viajante não desgruda os olhos.
Dentro da São Vito, o olhar não
saberá para onde ir: vitrais, santos, anjos, crucifixos, órgãos, túmulos e incensários. Diante do altar-mor, encontra-se a tumba
real, mas os corpos dos reis ficam
na cripta, onde estão os restos
mortais de Carlos 4º, Venceslau
4º, Jorge de Prodebrady e Rodolfo
2º. Não dá para deixar de subir em
uma das torres e, de lá, avistar os
demais prédios do castelo.
A basílica de São Jorge também
se destaca. Não só porque é o edifício românico mais bem preservado do castelo e até mesmo de
Praga mas também porque, em
seu interior, esculturas e quadros
barrocos e neobarrocos estão espalhados por todos os cantos, ora
iluminados pelo sol que atravessa
os vitrais, ora sob a sombra, quase
imperceptíveis.
Não é difícil permanecer horas
ali. Talvez seja esse o motivo de
um passeio de dia inteiro pelo castelo ser insuficiente. Não bastasse
isso, a vista que se tem de Praga a
partir de diversos pontos do castelo é privilegiada, o que, mais
uma vez, convida o visitante a
olhar. A vontade é retornar todos
os dias ao castelo. O que de certo
modo acontece: muitas vezes, caminhando pelas ruas de Praga, é
possível avistar, lá longe, as torres
da São Vito -o que basta para a
memória nos levar de novo ao reino de belezas que é o castelo de
Praga.
(AA)
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