|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FERNANDO GABEIRA
Todas as promessas de um mês de férias
Chegou julho , com todas
as suas promessas. Os caminhos estão abertos para muitas
viagens. Como é uma liberdade
dentro de limites, selecionei três
roteiros. Não sei se conseguirei
cumprir os três ou se viajo um
pouco mais do que o previsto.
Faz muito tempo que queria conhecer a Antártida, continente
que tem a extensão de um Brasil e
meio -14 milhões de km2. A
chance surgiu de um convite da
Marinha, que realiza seis vôos
diários para a região, onde nosso
país tem uma pequena base, tocada por militares e pesquisadores.
Estamos investindo no futuro,
ombro a ombro com outras nações, pesquisando a terra, a vida e
as condições climáticas da região.
Estamos no inverno, e a viagem
vai depender, depois da chegada
a Punta Arenas, no extremo sul
do Chile, das condições climáticas. Nem todo dia se pode chegar
à ilha King George, onde está a
base brasileira. É preciso uma
ponta de sorte. No inverno a temperatura não só pode chegar a
40C negativos como, dependendo do vento, a estação torna-se
mais rigorosa ainda.
Nem todos conhecem esse esforço brasileiro de preservação e
análise desse importante pedaço
do planeta, que detém 80% de toda a água doce da terra e uma reserva mineral, ao que tudo indica, abundante e variada.
Meu tempo de permanência na
base será pequeno, mas ainda assim tenho esperanças de ver um
bom dia de sol de inverno. Estou
até pensando em dar uma melhorada no meu equipamento fotográfico, apesar de a temperatura
negativa normalmente paralisar
as câmeras eletrônicas se você esquecê-las um pouco ao ar livre.
Outra viagem que me fascina
neste mês é ao Amapá. Várias vezes fui convidado para conhecer a
experiência política que é implementada lá, uma tentativa de
aplicar o conceito de desenvolvimento sustentado à Amazônia.
Sempre que me convidam para
ver o quadro social, acenam também com a promessa: você vai
gostar da natureza, há lindas paisagens. Se tudo der certo, esse lado, de lindas paisagens, vai ser
um convite para contar com imagens nesse pedaço das férias.
E há uma viagem que não posso
deixar de fazer: São Tomé das Letras. Meu amigo Silvio, que tem
uma moto Shadow, vai diariamente nadar no Flamengo. Saíamos juntos para passear pelo Rio
e ele sempre cobrava: "Quando
vamos cair na estrada?" Eu dizia:
"Qualquer dia, qualquer dia". E
ele passou a perguntar: "Para onde vamos?" Um dia, respondi:
"São Tomé das Letras".
Isso faz mais de um ano e não
há um fim-de-semana em que ele
deixa de fazer a pergunta:
"Quando é que vamos para São
Tomé das Letras?".
A estrada é delicada, cheia de
curvas, mas mais cedo ou mais
tarde teremos de enfrentá-la. E
como São Tomé inteira é calçada
de pedras, nós poderemos deixar
a moto na entrada da cidade e
entrar caminhando.
Neste exato momento, nada tenho a reclamar de julho, sobretudo porque o inverno no Rio de Janeiro não é nenhuma Antártida.
Na verdade, são os dias mais
agradáveis do ano.
Planos para um mês de várias
viagens a gente pode fazer como
quiser. Tomara que não sejam como aquele peixe no romance "O
Velho e o Mar". Quando foi pescado era imenso, quando chegou
na praia, comido pelos tubarões
no caminho, era apenas um esqueleto. Mas viagens começam
com planos. Na Antártida teremos de usar sapatos dois números
acima do que usamos habitualmente. Só de mexer com esses detalhes ("Você tem luvas de dedos
juntos?", pergunta o formulário
da Marinha) você já começa a
viajar e, mesmo que não saia do
lugar, já fez alguma coisa.
Texto Anterior: Mergulhe nas Ilhas Cayman Próximo Texto: Aventura: Feira de esportes deve faturar R$ 40 milhões Índice
|