São Paulo, segunda-feira, 03 de julho de 2000


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FERNANDO GABEIRA
Todas as promessas de um mês de férias

Chegou julho , com todas as suas promessas. Os caminhos estão abertos para muitas viagens. Como é uma liberdade dentro de limites, selecionei três roteiros. Não sei se conseguirei cumprir os três ou se viajo um pouco mais do que o previsto.
Faz muito tempo que queria conhecer a Antártida, continente que tem a extensão de um Brasil e meio -14 milhões de km2. A chance surgiu de um convite da Marinha, que realiza seis vôos diários para a região, onde nosso país tem uma pequena base, tocada por militares e pesquisadores.
Estamos investindo no futuro, ombro a ombro com outras nações, pesquisando a terra, a vida e as condições climáticas da região. Estamos no inverno, e a viagem vai depender, depois da chegada a Punta Arenas, no extremo sul do Chile, das condições climáticas. Nem todo dia se pode chegar à ilha King George, onde está a base brasileira. É preciso uma ponta de sorte. No inverno a temperatura não só pode chegar a 40C negativos como, dependendo do vento, a estação torna-se mais rigorosa ainda.
Nem todos conhecem esse esforço brasileiro de preservação e análise desse importante pedaço do planeta, que detém 80% de toda a água doce da terra e uma reserva mineral, ao que tudo indica, abundante e variada.
Meu tempo de permanência na base será pequeno, mas ainda assim tenho esperanças de ver um bom dia de sol de inverno. Estou até pensando em dar uma melhorada no meu equipamento fotográfico, apesar de a temperatura negativa normalmente paralisar as câmeras eletrônicas se você esquecê-las um pouco ao ar livre.
Outra viagem que me fascina neste mês é ao Amapá. Várias vezes fui convidado para conhecer a experiência política que é implementada lá, uma tentativa de aplicar o conceito de desenvolvimento sustentado à Amazônia. Sempre que me convidam para ver o quadro social, acenam também com a promessa: você vai gostar da natureza, há lindas paisagens. Se tudo der certo, esse lado, de lindas paisagens, vai ser um convite para contar com imagens nesse pedaço das férias.
E há uma viagem que não posso deixar de fazer: São Tomé das Letras. Meu amigo Silvio, que tem uma moto Shadow, vai diariamente nadar no Flamengo. Saíamos juntos para passear pelo Rio e ele sempre cobrava: "Quando vamos cair na estrada?" Eu dizia: "Qualquer dia, qualquer dia". E ele passou a perguntar: "Para onde vamos?" Um dia, respondi: "São Tomé das Letras".
Isso faz mais de um ano e não há um fim-de-semana em que ele deixa de fazer a pergunta: "Quando é que vamos para São Tomé das Letras?".
A estrada é delicada, cheia de curvas, mas mais cedo ou mais tarde teremos de enfrentá-la. E como São Tomé inteira é calçada de pedras, nós poderemos deixar a moto na entrada da cidade e entrar caminhando.
Neste exato momento, nada tenho a reclamar de julho, sobretudo porque o inverno no Rio de Janeiro não é nenhuma Antártida. Na verdade, são os dias mais agradáveis do ano.
Planos para um mês de várias viagens a gente pode fazer como quiser. Tomara que não sejam como aquele peixe no romance "O Velho e o Mar". Quando foi pescado era imenso, quando chegou na praia, comido pelos tubarões no caminho, era apenas um esqueleto. Mas viagens começam com planos. Na Antártida teremos de usar sapatos dois números acima do que usamos habitualmente. Só de mexer com esses detalhes ("Você tem luvas de dedos juntos?", pergunta o formulário da Marinha) você já começa a viajar e, mesmo que não saia do lugar, já fez alguma coisa.


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