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SALVADOR
Comemorações do centenário incluem mostra de fotos e peça de teatro que relembram importância da via pública
Rua Chile faz 100 anos revivendo glamour
NELSON VARÓN CADENA
ESPECIAL PARA A FOLHA
Salvador já comemora o centenário da rua Chile, que no passado foi a rua mais importante da
cidade, revivendo o seu glamour e
a sua história com eventos que
resgatam um pedacinho da alma
dos baianos. A partir deste mês,
moradores e turistas poderão
apreciar mostras de fotografias
antigas, assistir a peças teatrais e a
programas de TV, ir a lançamentos de livros e ver as intervenções
físicas programadas pela prefeitura. O intuito é marcar em grande
estilo os cem anos da rua, cujo
aniversário é no dia 16 de julho.
Os primeiros eventos do centenário já mexem com a emoção
dos mais velhos e atraem novas
gerações em torno de um estilo de
vida que marcou as várias faces da
rua: a Chile dos magazines e das
lojas de moda, das casas de chá,
dos cassinos, dos cinemas e até do
tradicional sorvete de A Cubana,
que ainda hoje pode ser degustado num box do elevador Lacerda,
com mesas em volta, de onde se
aprecia a baía de Todos os Santos.
Os eventos revivem ícones de
um passado que não existe mais,
como o teatro São João, Casas Sloper, loja Duas Américas, hotel
Meridional e alguns que sobreviveram ao tempo, como o hotel
Palace, recém-reformado.
Em maio e em junho, uma exposição de fotografias montada
no Memorial da Câmara de Vereadores mostra a evolução física
da rua, fachadas e interior de lojas, além de personagens e eventos que marcaram a sua história.
A mostra conta com 72 fotografias resgatadas de velhos arquivos
e acervos públicos e de famílias.
(Veja algumas das imagens antigas nesta pág. e na seguinte.) Algumas são inéditas, como a que
mostra a inauguração da rádio
Sociedade, a pioneira da Bahia,
fundada em 1924 no palacete pertencente a Giovano Mercuri, bisavô da cantora Daniela Mercury.
Outras fotografias chamam a
atenção pela sua originalidade,
como a que mostra o aviador espanhol Antenor Novarro sobrevoando o hotel Meridional numa
precária aeronave dos anos 20 ou
a que detalha o desfile triunfal do
príncipe Umberto de Sabóia, herdeiro do trono italiano, quando
visitou Salvador, em 1924.
Tipos humanos também podem ser apreciados, dentre eles,
"a mulher de roxo", uma senhora
que teria perdido a sua fortuna e o
juízo e que durante mais de 30
anos pediu esmolas nas imediações da Sloper. Florinda, como se
chamava, vestia-se com veludo
roxo e grosso, figurino de freira
caracterizado por um crucifixo no
pescoço, contracenando com as
roupas leves dos baianos no eterno verão de Salvador.
A exposição é uma aula de urbanismo. Mostra a evolução da área
onde por 111 anos existiu o teatro
São João, espaço hoje ocupado
pelo palácio dos Desportos e a estátua do poeta Castro Alves. Mostra ainda os velhos sobrados com
fachada em art déco e o alargamento da rua com trilhos de bonde, postes de iluminação pública
de ferro e outras inovações que
marcaram as reformas promovidas pelo então governador José
Joaquim Seabra em 1915. As reformas foram inspiradas nas
obras de Pereira Passos no Rio e
Antônio Prado em São Paulo,
adeptos dos princípios do barão
de Haussaman, o arquiteto que
projetou os bulevares parisienses.
Outro evento comemorativo do
centenário é a peça "Bolero", escrita e dirigida por Paulo Alcântara, que está em cartaz no teatro
Jorge Amado. Ela revive alguns
personagens da Chile, como o
poeta popular Rodolfo Cavalcanti, o mágico de rua Floripes (primeiro travesti assumido da cidade) e "a mulher de roxo". Figurinos dos anos 50 dão o clima de
uma época e um estilo de vida.
Também está programado o
lançamento de livros do pesquisador Francisco Sena e de Oleone
Coelho Fontes, cronista da guerra
de Canudos e de Lampião.
O Chile também vai participar
das festas. Em junho, o Memorial
da Câmara expõe quadros de artistas chilenos. A cidade de Valparaíso deve abrigar um Carnaval
fora de época, com trios elétricos e
artistas baianos.
Após os festejos do centenário, a
prefeitura assina os protocolos
para a revitalização da área.
Exposição Comemorativa do Centenário da Rua Chile - No Memorial da
Câmara de Vereadores (praça Thomé de
Souza, s/nš, tel. 0/xx/71/320-0308/320-0100), até junho, das 9h às 18h; visitação
gratuita
Peça de teatro "Bolero" - No teatro
Jorge Amado (av. Manuel Dias da Silva,
2.177, Pituba, tel. 0/xx/71/355-8622); até
9 de junho, sextas e sábados, às 21 horas;
domingos às 20h; ingressos: R$ 15 (sexta) e R$ 18 (sábado e domingo)
Nelson Varón Cadena é pesquisador e
curador da "Exposição Comemorativa do
Centenário da Rua Chile"
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