São Paulo, segunda-feira, 06 de maio de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SALVADOR

Comemorações do centenário incluem mostra de fotos e peça de teatro que relembram importância da via pública

Rua Chile faz 100 anos revivendo glamour

NELSON VARÓN CADENA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Salvador já comemora o centenário da rua Chile, que no passado foi a rua mais importante da cidade, revivendo o seu glamour e a sua história com eventos que resgatam um pedacinho da alma dos baianos. A partir deste mês, moradores e turistas poderão apreciar mostras de fotografias antigas, assistir a peças teatrais e a programas de TV, ir a lançamentos de livros e ver as intervenções físicas programadas pela prefeitura. O intuito é marcar em grande estilo os cem anos da rua, cujo aniversário é no dia 16 de julho.
Os primeiros eventos do centenário já mexem com a emoção dos mais velhos e atraem novas gerações em torno de um estilo de vida que marcou as várias faces da rua: a Chile dos magazines e das lojas de moda, das casas de chá, dos cassinos, dos cinemas e até do tradicional sorvete de A Cubana, que ainda hoje pode ser degustado num box do elevador Lacerda, com mesas em volta, de onde se aprecia a baía de Todos os Santos.
Os eventos revivem ícones de um passado que não existe mais, como o teatro São João, Casas Sloper, loja Duas Américas, hotel Meridional e alguns que sobreviveram ao tempo, como o hotel Palace, recém-reformado.
Em maio e em junho, uma exposição de fotografias montada no Memorial da Câmara de Vereadores mostra a evolução física da rua, fachadas e interior de lojas, além de personagens e eventos que marcaram a sua história.
A mostra conta com 72 fotografias resgatadas de velhos arquivos e acervos públicos e de famílias. (Veja algumas das imagens antigas nesta pág. e na seguinte.) Algumas são inéditas, como a que mostra a inauguração da rádio Sociedade, a pioneira da Bahia, fundada em 1924 no palacete pertencente a Giovano Mercuri, bisavô da cantora Daniela Mercury.
Outras fotografias chamam a atenção pela sua originalidade, como a que mostra o aviador espanhol Antenor Novarro sobrevoando o hotel Meridional numa precária aeronave dos anos 20 ou a que detalha o desfile triunfal do príncipe Umberto de Sabóia, herdeiro do trono italiano, quando visitou Salvador, em 1924.
Tipos humanos também podem ser apreciados, dentre eles, "a mulher de roxo", uma senhora que teria perdido a sua fortuna e o juízo e que durante mais de 30 anos pediu esmolas nas imediações da Sloper. Florinda, como se chamava, vestia-se com veludo roxo e grosso, figurino de freira caracterizado por um crucifixo no pescoço, contracenando com as roupas leves dos baianos no eterno verão de Salvador.
A exposição é uma aula de urbanismo. Mostra a evolução da área onde por 111 anos existiu o teatro São João, espaço hoje ocupado pelo palácio dos Desportos e a estátua do poeta Castro Alves. Mostra ainda os velhos sobrados com fachada em art déco e o alargamento da rua com trilhos de bonde, postes de iluminação pública de ferro e outras inovações que marcaram as reformas promovidas pelo então governador José Joaquim Seabra em 1915. As reformas foram inspiradas nas obras de Pereira Passos no Rio e Antônio Prado em São Paulo, adeptos dos princípios do barão de Haussaman, o arquiteto que projetou os bulevares parisienses.
Outro evento comemorativo do centenário é a peça "Bolero", escrita e dirigida por Paulo Alcântara, que está em cartaz no teatro Jorge Amado. Ela revive alguns personagens da Chile, como o poeta popular Rodolfo Cavalcanti, o mágico de rua Floripes (primeiro travesti assumido da cidade) e "a mulher de roxo". Figurinos dos anos 50 dão o clima de uma época e um estilo de vida.
Também está programado o lançamento de livros do pesquisador Francisco Sena e de Oleone Coelho Fontes, cronista da guerra de Canudos e de Lampião.
O Chile também vai participar das festas. Em junho, o Memorial da Câmara expõe quadros de artistas chilenos. A cidade de Valparaíso deve abrigar um Carnaval fora de época, com trios elétricos e artistas baianos.
Após os festejos do centenário, a prefeitura assina os protocolos para a revitalização da área.

Exposição Comemorativa do Centenário da Rua Chile - No Memorial da Câmara de Vereadores (praça Thomé de Souza, s/nš, tel. 0/xx/71/320-0308/320-0100), até junho, das 9h às 18h; visitação gratuita

Peça de teatro "Bolero" - No teatro Jorge Amado (av. Manuel Dias da Silva, 2.177, Pituba, tel. 0/xx/71/355-8622); até 9 de junho, sextas e sábados, às 21 horas; domingos às 20h; ingressos: R$ 15 (sexta) e R$ 18 (sábado e domingo)


Nelson Varón Cadena é pesquisador e curador da "Exposição Comemorativa do Centenário da Rua Chile"


Texto Anterior: Banho de lama faz parte do currículo em Canavieiras
Próximo Texto: Desfile da Marinha chilena batizou via
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.